I. INTRODUÇÃOA instabilidade política na região dos Andes tem chamado a atenção pela sua instabilidade ainda que a região do Cone Sul mais o Brasil (se excetuamos o Paraguai) tenda a apresentar mais estabilidade do ponto de vista político. Não há espaço, então, para adiantar hipóteses sobre qual das situações é mais intensa. Mas cabem algumas percepções em comum sobre a região como um todo. A América do Sul apresenta uma mistura de desigualdade, pobreza, violência e desemprego. A América Latina começou o novo milênio com uma parcela de 45% de sua população ganhando até dois dólares por dia, e sendo um dos continentes mais violentos do mundo. Conhecer alguns lugares como o Sul do Brasil é como pensar que estamos num lugar que não deve nada aos paises de modernização avançada. No entanto, essa percepção desfaz-se quando percebemos que as regiões Norte e Nordeste do país são economicamente atrasadas e socialmente muito desiguais. Mesmo quando pensamos em países como a Bolívia, não parece estranho que o país divida-se entre uma região alta de imensa desigualdade social e uma região oriental de muito dinamismo econômico, que conta com um agronegócio bastante moderno.Em princípio, poderia ser possível atribuir essas assimetrias à incapacidade dos operadores tradicionais da política, sejam eles partidos ou lideranças, em completar um processo de modernização bem-sucedido. A modernização nesses países seria incompleta porque não se conseguiu resolver com suficiente eficácia a promessa de reforma agrária ou a promessa da industrialização por meio da substituição de importações. A promessa da reforma agrária a milhões de pessoas carentes foi sempre uma invariante na América Latina. Foi também a grande promessa da Revolução Mexicana e a promessa dos governos democráticos e autoritários que se instalaram na América Latina desde os anos 1950 e 1960. No início do terceiro milênio constata-se que a reforma agrária, uma das principais promessas dos governos nacionalistas e reformistas dos anos 1960, pouco materializouse em fatos. Na verdade, a história parece ter agido em sentido inverso. Em vez de uma partilha justa e eqüitativa da terra, deparamos-nos com uma alta concentração da terra em mãos de setores latifundiários.