RESUMO: O presente texto aborda questões relativas à construção da psicologia social comunitária no Brasil e as interfaces deste processo histórico com a formação profissional. Para tanto, apóia-se em dados sobre o contexto histórico e social brasileiro no decorrer da efetivação das práticas psicológicas em comunidades. Finalmente, o estudo propõe reflexões quanto ao descompasso entre a formação e os fenômenos sociais contemporâneos.PALAVRAS-CHAVE: Preparação profissional; Psicologia Social Comunitária; práticas sociais.
COMMUNITY SOCIAL PSYCHOLOGY AND PROFESSIONAL PREPARATIONABSTRACT: The following paper approaches issues related to the Community Social Psychology's construction in Brazil and the interactions of this historical process with the professional preparation. For this purpose, the Brazilian historical and social context is taken into consideration in order to reach effective psychological practices in communities. In addition, it associates Community Social Psychology's characteristics with the professional preparation and the Psychology's construction. Finally, this paper considers reflections about the professional preparation and contemporaries social phenomena.KEYWORDS: Professional preparation; Community Social Psychology; social practices.
Demarcando Territórios: Registros dos Diferentes Caminhos da Instituição da Psicologia no BrasilA profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil em 1962. Pouco tempo antes do Golpe Militar que condenou o País a um longo período ditatorial. Na época, as práticas psicológicas se consolidaram sob a influência de ideologias desenvolvimentistas, pautadas pela repressão política e pelo patrulhamento ideológico, que caracterizaram o Brasil ao longo de quase três déca-das de ditadura explícita.A decorrência imediata desses fatos nas práticas psicológicas e, obviamente, na formação profissional foi o predomínio de abordagens individualistas, descontextualizadas e apoiadas em modelos abstratos de seres humanos. Tais modelos eram tomados como medidas para a realização e avaliação das ações o que engendrou processos de normatização e de controle das pessoas e contribuiu para a naturalização das expressões de violência e repressão. Assim, este cenário favorecia o uso da psicologia para a articulação de espaços de exclusão social e de adaptação dos "desviantes", transformando práticas em instrumentos de controle ideológico.Especialmente a classe média brasileira era atingida por esse processo, pois a ideologia desenvolvimentista causava na população brasileira "um profundo conformismo político", além da "produção de subjetividades consumistas" (Coimbra, 1995, p. 56). Nesta ótica era evidente a predominância de perspectivas individualistas também na produção do conhecimento e nas práticas psicológicas. Como afirmou Campos (1992), a psicologia contribuía, em algumas ocasiões, como ferramenta ideológica, com potencial de tornar os mecanismos sociais vigentes obscuros, através da legitimação da desigualdade, com argumentos "pretensamente universais e neutros" (p. 125).O co...