Desde que se criaram as condições para a existência de aglomerados populacionais, os grandes flagelos sanitários da humanidade sempre estiveram presentes. As condições de vida, os desastres naturais ou provocados podem agravar consideravelmente o risco de epidemias. Ao largo da história da humanidade, populações de todo o mundo foram afetadas esporadicamente por surtos devastadores de doenças infecciosas, com destaque para a cólera, peste e varíola. Hipócrates (460-377 a.C.) e Galeno (129-216 d.C.) descreveram, já em suas épocas, uma doença que provavelmente era a cólera (1) .A relação entre doença e civilização tem raízes mais antigas que a historia escrita. Os males sofridos durante os primeiros estágios da evolução humana foram identificados através de estudos arqueológicos (2) .A atualidade é marcada por erupções recorrentes de doenças recémdescobertas, como o hantavírus, a AIDS, o ebola e gripes provocadas por vírus de diversas estruturas, entre outras epidemias de doenças que migraram para novas áreas, moléstias que adquiriram importância através de tecnologias humanas, como as síndromes de choques tóxicos, a doença dos legionários e zoonoses, em decorrência da destruição dos habitats naturais dos animais pelo homem. Algumas dessas doenças poderão gerar epidemias em grande escala, até mundial, a exemplo da epidemia global do vírus da imunodeficiência humana, a AIDS, considerada a primeira doença infecciosa epidêmica moderna (2,3) .O grande aumento da movimentação de pessoas e mercadorias pelo mundo é a força motriz por trás da globalização das doenças, tornando o mundo mais rapidamente vulnerável à propagação tanto de antigas como de novas enfermidades. As pessoas e as mercadorias passaram a viajar e circular mais, e com elas transportam-se micro-organismos a locais onde antes inexistiam.A nova epidemia de ebola traz, no seu bojo, grandes desafios para os serviços de saúde e pesquisadores.Três fatores intervieram para sua eclosão e repercussão. O primeiro está na gravidade da doença, expressa numa letalidade de 50% a 90%. O segundo diz respeito à magnitude, abrangendo três países e cidades altamente populosas (Libéria, Guiné Conacri e Serra Leoa). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os surtos surgem, normalmente, em aldeias remotas da África Central e Ocidental, próximo a florestas tropicais. Neste momento, o vírus, que tem cinco estirpes, só existe no continente africano, mas já houve casos nas Filipinas e na China (4,5,6) .O terceiro fator está ligado à questão cultural, tanto do ponto de vista dos costumes locais que favorecem a transmissão, como da desconfiança da população em relação aos serviços de saúde e seu despreparo. Nessa mescla de cultura, apareceu uma nova ameaça vinculada à intensa mobilidade entre países, através da aviação turística e de negócios.A possibilidade de expansão para os países desenvolvidos colocou o mundo em alerta, em particular, a OMS. A resposta dos órgãos internacionais foi lenta e limitada quando a epidemia abrangia só os países africanos. O ebola existe de...