Desemprego - mercados, instituições e percepções: Brasil e Japão numa perspectiva comparada

Abstract

As características (formas, duração e seletividade) do desemprego e sua percepção pelos atores são dotadas de diferentes configurações nacionais, em função tanto de dimensões históricas como socioculturais. Neste texto apresentamos, numa perspectiva comparada, resultados relativos à situação de desemprego em dois contextos sociais distintos, representados pelas regiões metropolitanas de São Paulo e Tóquio 1 . Por que comparar situações de desemprego? Em primeiro lugar, porque comparações internacionais em termos de desemprego são raras ou, quando existentes, no mais das vezes, limitam-se a construir séries estatísticas baseadas em cálculos conformes às normas internacionais (OIT ou OCDE). Assim fazendo, qualquer que seja seu grau de sofisticação, não raro tais comparações estão fundadas na idéia de que o desemprego designa a mesma coisa nos diferentes países. Neste trabalho, partimos de um ponto de vista oposto, qual seja, o de que a significação do desemprego varia segundo os espaços nacionais; daí por que convém comparar distintas situações de desemprego.Para bem compará-las, há que ter em conta igualmente quais são os fatores relevantes na determinação de tal variação. Assumiremos, aqui, a necessidade de focalizar quando menos dois desses fatores, por sua importância para o entendimento das formas, duração e seletividade do desemprego. Esses fatores depreendem-se de dois planos: o plano normativo -

A experiência da procura de trabalho: um estudo de caso

“…Entre as mudanças mais destacadas pela literatura sobressaem: o acentuado aumento dos níveis e da duração do desemprego, a flexibilização das relações contratuais de trabalho, o aumento da terceirização e da subcontratação, a diminuição dos postos de trabalho para o operariado industrial tradicional, o crescimento dos postos na área de serviços e o aumento da elasticidade da demanda de trabalho, efeito da globalização nos mercados de trabalho. (Offe, 1989;Demazière, 2006;Maruani e Reynaud, 1993;Freyssinet, 1984;Antunes, 1999;Guimarães, 2004;Singer, 2000;Castel, 2005;Rodrik,1997;Dedecca, 1996;Baltar & Proni, 1996). Nesse mesmo período, houve um aumento significativo do interesse sociológico pelo tema do desemprego.…”

“…Esses estudos chamam a atenção para o fato que uma abordagem sociológica dessa questão deveria encarar que as fronteiras entre desemprego, atividade e inatividade são construções sociais específicas (Demaziére, 1995(Demaziére, , 2003(Demaziére, , 2006Guimarães, 2002, Guimarães, Hirata, Montagner & Sugita, 2004. A procura de trabalho é, como ressaltamos na introdução desse capítulo, fundamental ao delineamento das fronteiras entre desemprego e inatividade, mas, vale repetir, foi muito pouco explorada dentro dessa perspectiva que defende a pertinência de tomar as fronteiras entre situações no mercado de trabalho como construções sociais e subjetivas.…”

“…A procura de trabalho, como mostrou Granovetter (Guimarães, Hirata, Montagner & Sugita, 2004;IPEA, 2007;Chahad, 2003). Ao lado disso, é notável a distribuição desigual do risco do desemprego e das chances de localizar-se em ocupações precárias; os jovens, os negros e as mulheres estão entre os mais afetados por essas duas situações (Cacciamali e José-Silva, 2003;Dedecca, 1996, IPEA, 2007Brandão, Watanabe, Ferreira e Montagner, 2006 -Silva, 2002;IPEA,2007, Singer, 2000Chahad, 2003;Pochman, 1999, Guimarães, 2002 8 Boletim IPEA Políticas Sociais.…”

“…É a "queima de capital" (Rodarte & Braga, 2005) ou "perda de qualificação acumulada" (Guimarães, 2004) anteriores à entrevista ou que, não tendo procurado neste período, o fizeram sem êxito até 12 meses atrás e ii) "desemprego oculto por desalento" -aplicável às pessoas sem trabalho e com necessidade de trabalhar, porém sem procura efetiva por desestímulo do mercado de trabalho ou por circunstâncias fortuitas, mas que apresentaram procura ativa, de pelo menos 15 dias, nos últimos 12 11 No Brasil os institutos que medem as estatísticas referentes a mercado de trabalho usam metodologias e conceitos diferentes. (Pochman, 2007;Brandão &Hoffman, 1996).…”

“…Isso porque à medida que se multiplicam as situações de desemprego dada a "recorrência do desemprego" captada por diversas pesquisas (Brandão, Watanabe, Ferreira e Montagner, 2006;Guimarães, Hirata, Montagner e Sugita, 2004;Guimarães 2004), aumenta a freqüência dos períodos de procura de trabalho nas trajetórias ocupacionais. Além disso, o tempo de procura de trabalho vem aumentando, conforme pesquisas com dados para o Brasil e para a Região Metropolitana de São Paulo (Guimarães, Hirata, Montagner e Sugita, 2004;IPEA, 2007;Rodarte e Braga, 2005).…”