nacional, terrorismos e, mais recentemente, pela Chechenia, Libéria, Rwanda e Kosovo, e ainda pela chamada "violência urbana".Em outros termos, violência é uma palavra ícone da modernidade em crise. Os discursos que se identificam com a modernidade têm na violência uma espécie de "parte maldita" (G. Bataille), um "resquício", um elo da corrente que nos prende ao passado. Neste tipo de discurso, violência existe como uma unidade exterior ao campo social; ela é a própria negação da sociabilidade. O malestar da sociedade é produto da busca de construir um mundo onde a "parte maldita" da vivência social ceda seu lugar ao pleno domínio da razão. Esta busca se confronta com um descompasso entre a visão racional e progressiva do mundo e a realidade de guerras, genocídio, crimes e agressões que se observa quotidianamente. É a perplexidade do mundo moderno diante da "banalidade do mal" (H. Arendt). Por sua posição estratégica na visão de mundo moderna, os discursos sobre as violências são um questionamento à visão de mundo dominada pelo encantamento com a racionalidade. Portanto, consideramos que estes discursos são um ponto de apoio sobre o qual se movem novos significados da vida social, e seu estudo é fundamental para a compreensão do tempo presente.Assim, podemos dizer que os discursos da modernidade se mostram insatisfatórios para a significação do mundo contemporâneo. Faz-se portanto necessária uma revisão dos nossos conceitos e práticas no campo das violências. Esta revisão conceitual nos permitirá abrir nossas análises para além das fronteiras atuais. O tempo presente não se reduz à dimensão racional, mas deve incluir
A violência simbólica é uma violência que se exerce com a cumplicidade tácita dos que a sofrem e também, com freqüência, dos que a exercem, na medida em que uns e outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-la.P. Bourdieu iolência é uma palavra singular. Seu uso recorrente a tornou de tal modo familiar que parece desnecessário defini-la. Ela foi transformada numa espécie de significante vazio, um artefato sempre disponível para acolher novos significados e situações. O seu campo semântico tem uma regra de formação: a constante expansão. A aparente unidade deste termo resulta de uma generalização implícita dos diversos fenômenos que ela designa sempre de modo homogeneizador e negativo.Sabemos que o complexo "conjunto" de fenômenos que a palavra violência designa é plural nas suas formas e significados. Por esta razão, sua redução a uma forma singular e negativa pode ser entendida como expressão de uma percepção social marcada pela prevalência da atitude racional e pelo desprezo da dimensão não-racional do comportamento humano. É o discurso da modernidade, aquele dos grandes pensadores do século XIX, e sua crença que o século seguinte seria marcado pelo progresso e pela razão. Hoje, já no final do século XX, podemos afirmar que, efetivamente, ele foi marcado por um grande progresso social e tecnológico, ainda que muito desigualmente distribuído, mas também pelas chamadas Grandes Guerras Mundiais...