ResumoEste estudo objetivou investigar os condicionantes da exploração sexual de crianças e adolescentes (ESCA) sob a percepção de trabalhadores de grandes obras (TGOs) e analisar comparativamente grupos de perpetradores e não-perpetradores. Foram entrevistados 288 TGOs em diferentes regiões brasileiras. Dos entrevistados, 67% apontaram o envolvimento dos colegas de trabalho com ESCA e 25,4% relataram o próprio envolvimento. As principais variáveis correlacionadas ao problema foram o envolvimento com prostituição, o uso de drogas e o tempo alojado nas obras. O envolvimento com prostitutas despontou como variável mais importante na predição do envolvimento com ESCA. Intervenções nesta área requerem maior conhecimento acerca dos perpetradores, auxiliando na elaboração de perspectivas de enfrentamento mais eficazes. Palavras-chave: Exploração sexual, crianças, adolescentes, trabalhadores de grandes obras.
AbstractThis study aimed to understand the reasons for sexual exploitation of children and adolescents from the perception of Brazilian construction workers and compare groups of perpetrators and non-perpetrators. Two hundred eighty-eight construction workers were interviewed in different Brazilian regions. 67% of respondents indicated the involvement of co-workers with the issue and 25.4% reported their own involvement with it. Main variables correlated to the issue were the involvement with prostitutes, drug use and time out-of-home. Being involved with prostitutes was pointed as the most important variable explaining the involvement with the issue. Interventions in this area require more knowledge about the perpetrators, which may contribute to the development of more effective strategies of confrontation. Keywords: Sexual exploitation, children, adolescents, construction workers.O trabalho em grandes obras na construção civil constitui-se uma área bastante diferenciada das outras opções do mercado de trabalho, especialmente quando esta tarefa exige a formação de movimentos migratórios do trabalhador. Estima-se que mais de 90% dos empregados desta área são homens com até 40 anos de idade e com nível de escolaridade baixo -mais da metade não concluiu o ensino fundamental e cerca de 10% são analfabetos funcionais (Ministério do Trabalho e Emprego -Relação Anual de Informações Sociais [RAIS], http:/ /www.rais.gov.br). A alta mobilidade no trabalho é outra característica marcante dessa profissão. Períodos de emprego e desemprego, afastamento do lar e da família, falta de formação de redes sociais de apoio (comunidades, igrejas etc.) colocam o trabalhador de grandes obras (TGO) em uma situação diferenciada, inclusive fragilizando os vínculos que se formam entre esses trabalhadores e a comunidade onde estão inseridos.Alguns estudos realizados com esta população no sudeste da Ásia mostram os efeitos da rede social e do afastamento da família na vida sexual dos trabalhadores. Fica claro que a distância de casa aumenta a probabilidade de sexo extra-marital e de envolvimento com a prostituição, enquanto a proximidade dos...