Consumo alimentar infantil: quando a criança é convertida em sujeito

Abstract

Resumo: Este artigo traz como proposta a reflexão sobre o consumo alimentar infantil em locais públicos, como escolas e creches, e a mobilização de setores da sociedade brasileira no sentido da normatização deste consumo. Este debate tem como cenário a mídia impressa, jornais e revistas de alcance nacional -os jornais Folha de S. Paulo e O Globo e as revistas Época e Veja -, investigada nos últimos dez anos. Trata-se de tema polêmico, recente em nossa sociedade, refletindo transformações ocorridas no contexto do estatuto da criança como sujeito (consumidor), de seu papel na família, bem como de uma nova ingerência do Estado nas ações de vida dos cidadãos. IntroduçãoA questão "o que nossas crianças estão comendo?" traduz uma das inquietações contemporâneas sobre as consequências do estilo de vida predominante nas metrópoles, observada mais recentemente através de atitudes como a regulamentação da merenda escolar nas instituições de ensino brasileiras e a progressiva definição da obesidade como questão de saúde pública. O consumo alimentar de "nossas crianças" revela-se atualmente como arena de uma batalha de significados envolvendo diversos atores sociais, tendo ainda, neste caso, a particularidade de expressar o conflito inaugurado entre uma crescente autonomia infantil e o discurso hegemônico regulador das práticas e visões de mundo de nossas instituições, bem como da sociedade civil. Revela-se ainda como área privilegiada de tematização da sociedade contemporânea, na qual a velocidade das transformações se define como característica marcante.O presente artigo traz como proposta a reflexão sobre o consumo alimentar infantil no espaço público, particularmente nas escolas e creches, que tem sido objeto, ao longo dos últimos anos, de uma série de medidas administrativas que visam à sua

Ideias em disputa sobre as atribuições do Estado na prevenção e controle da obesidade infantil no Brasil

“…No entanto, são as ações regulatórias as que mais tensionam as distintas perspectivas sobre as liberdades individuais quanto às escolhas alimentares 41 , e tais tensões se colocam de forma singular no espaço escolar para onde confluem disputas de ideias quanto às formas de PAAS e prevenção da obesidade. A implementação dos documentos governamentais que estabelecem diretrizes de PAAS nas escolas demanda aprovação dos diferentes segmentos da comunidade escolar.…”

“…A implementação dos documentos governamentais que estabelecem diretrizes de PAAS nas escolas demanda aprovação dos diferentes segmentos da comunidade escolar. A adesão às recomendações propostas pode, por vezes, produzir resistências dos escolares, dos seus responsáveis e de membros da comunidade escolar 41 .…”

Atenção individual e coletiva à saúde materna e infantil no cenário brasileiro

“…Tais preferências dão ênfase a presença de alimentos préfabricados, produtos da indústria, com altos índices calóricos e altas concentrações de sódio e açúcar. Este estilo de comer, juntamente com o sedentarismo urbano, traz como consequência, o surgimento precoce nas crianças e nos adolescentes, de doenças mais prevalentes na população adulta como a obesidade, síndrome metabólica, depressão e ansiedade, assim como, contribuem para a formação de hábitos alimentares não saudáveis que poderão estar presentes na fase adulta (DUTRA, 2015e BRASIL, 2009. Esta realidade tem sido vivenciada pelos pais de forma conflituosa, primeiro porque a necessidade de uma educação alimentar envolve toda a família, exigindo uma alteração dos hábitos de vida do grupo e dos ambientes alimentares (DUTRA, 2015;SWINBURN, 1999).…”

“…Estudos como o realizado por Dutra (2015) reforçam os relatos encontrados com relação às falas das mães que demonstram suas percepções do que é considerado saudável. O autor afirma que, por preocupação com a saúde existe uma melhor escolha dos alimentos como também um cuidado maior na maneira de prepará-los e consumi-los, observando-se a difusão da orientação ao consumo de frutas, verduras e legumes na rotina alimentar infantil.…”

Políticas de Saúde e de Segurança Alimentar e Nutricional: desafios para o controle da obesidade infantil

“…The strategies with the greatest potential to affect institutional environments, such as health services and schools, are those that strengthen the capacity of these spaces to deal with prevention, care, and health promotion activities at different stages of the life cycle. However, school compliance to the proposed guidelines may, on occasion, be resisted by schoolchildren, families, and members of the school community as regulating food availability could be infringing on the individual's freedom to choose his own food products 41 .…”