Trocando em miúdos: gênero e sexualidade na TV a partir de Malu Mulher

Abstract

A canção de Ivan Lins e Vitor Martins na voz de Simone era o tema de Malu mulher, e fecha o primeiro episódio, que estreou em 24 de maio de 1979, uma quinta-feira, no horário das 22hs.1 O seriado, que visava atingir mulheres escolarizadas de classe média urbana, tratava da história de Maria Lucia (interpretada por Regina Duarte), socióloga, 32 anos, com uma filha, Elisa (Narjara Tureta), que se separa no primeiro episódio, buscando, como diz a canção, encontrar-se com si mesma e libertar-se do marido e do casamento. O ex-marido (Pedro Henrique, interpretado por Denis Carvalho), que no primeiro capítulo poderia soar como uma espécie de "vilão" melodramático, ao longo dos dois anos do seriado e de algumas disputas, torna-se uma pessoa normal, com defeitos e qualidades, nem sempre assumindo posturas antagonistas em relação a Malu, chegando mesmo a se tornar seu amigo. A crítica incidia

Claudia nas décadas de 1970-1980 - Feminismo, antifeminismo e a superação de um suposto passado radical

“…Atualmente é um dos principais nomes do Brasil na produção científica sobre trabalho das mulheres. 22 Zuleika Alambert (1922-2012 foi escritora, jornalista e política do PCB. Ela foi uma das duas primeiras mulheres a se eleger deputada estadual em São Paulo, em 1947.…”

“…É autora de importantes obras que articulam feminismo e marxismo no Brasil. 23 Maria Cristina Aranha Bruschini (1945-2012 foi socióloga, formada pela USP, e nome central no campo dos estudos feministas e de gênero. Pesquisadora sênior da Fundação Carlos Chagas (FCC), sua obra sobre as desigualdades de gênero e trabalho é ainda das principais referências sobre a temática, tendo impacto sobre diferentes gerações de feministas.…”

\'A filha da Dona Lecy\': estudo da trajetória de Leci Brandão

“…Aqui ao ter sido alvo de críticas ou ter sido vista como uma cantora de protesto, há uma resistência de Brandão de se encaixar no que diziam que ela era. Ainda que hoje, Leci entenda as razões que as feministas tiveram para criticá-la, o que a faz brincar com o episódio, ela continua colocando-se de um modo diferente, explicitando quais eram suas diferenças com as pessoas que lhe Entretanto, as mulheres que se definiam como feministas, nesse momento, em sua maioria eram de classe média e traziam como demandas, em linhas gerais, uma crítica ao casamento tradicional, à dupla moral sexual dos homensque mantinham relações afetivas e sexuais com outras mulheres que não a esposa -, a reivindicação de valorização do trabalho femininoque para as mulheres de classe média passava por uma escolha, enquanto para as mulheres de classes populares era mais uma condição de vida(Almeida, 2012). Desse modo, pode-se arriscar que a diferença de Leci com as pessoas citadas nesse episódio da canção "Ser mulher" se inseria nesse contexto, ou seja, eram críticas de mulheres de classe média que estavam pensando o feminismo a partir de suas vivências, que não eram as vivências das mulheres da família de Leci, nem dela mesma.Retomando às suas origens sociais, Leci enfatiza, dessa forma, que vinha de uma família simples e pobre e que suas canções não tinham, por exemplo, a ver necessariamente com a mesma crítica feita a ditadura que os outros cantores estavam fazendo.…”

Formações discursivas sobre homossexualidade em telenovelas brasileiras

“…A série tinha como público-alvo mulheres da classe média urbana e abordava os dramas de Maria Lucia (Regina Duarte), a Malu, mulher de 32 anos, graduada em sociologia, mãe e separada, que buscava recomeçar sua vida, libertar-se do casamento infeliz e do domínio psicológico do ex-marido (Denis Carvalho). Se nos primeiros episódios o ex-consorte figurou como "vilão", no decorrer do seriado tornou-se alguém "normal", repleto de defeitos e qualidades, nem sempre se altercando com Malu Na concepção deAlmeida (2012), o seriado Malu mulher representa de maneira exemplar o curso de modificações que estavam se processando nas construções simbólicas relacionadas à mulher na televisão brasileira, que deixa de ser retratada apenas como "heroína" resignada ao seu papel subalterno na família e passa a ser também simbolizada como uma "mulher mais moderna e menos submissa" à dominação masculina. Enquanto na década de 1970 as heroínas "boazinhas" ocupavam as telas e a censura institucionalizada pelo regime militar impedia que determinadas "imoralidades" fossem abordadas, é a partir do seriado em questão, no bojo da redemocratização, que essas construções puderam ser representadas ainda que parcialmente.…”

“…As pessoas te olham com desprezo e nojo'" (p. 131-132).Malu mulher é considerado um seriado emblemático, porque foi a partir dele que determinadas temáticas passaram a ser representadas na teledramaturgia, embora fossem pauta de movimentos sociais como o feminista. No entanto, como o Brasil passava pela distensão política do regime autoritário, havia certo "relaxamento da censura", somado ao interesse da Rede Globo em se distinguir das concorrentes ao ofertar atrações de "qualidade", na tentativa de apartar-se da imagem de emissora dócil e condescendente com o regime militar(Almeida, 2012).No final da década de 1980 e início dos anos 1990, a hoje extinta Rede Manchete protagonizou cenas ousadas de nudez em DonaBeja (1986) e Pantanal (1990). Já o sexo antes do casamento tornou-se tema comum em novelas, no entanto, sua representação se modificou paulatinamente quando se "descolou" da procriação e do próprio matrimônio, pois, inicialmente, relações sexuais levavam à imediata gravidez e ao casamento.…”