Através do espelho: subjetividade em Minha formação, de Joaquim Nabuco

Abstract

Roma indica a cada um o seu lugar.Feuerbach, citado por Simmel Este artigo pretende investigar os diferentes caminhos pelos quais Joaquim Nabuco modelou a sua personalidade em Minha formação, que, publicado em 1900, embora reunindo textos elaborados desde pelo menos 1893, converte-se em uma das primeiras e mais relevantes obras de cunho autobiográfico na tradição do pensamento brasileiro. No entanto, antes de prosseguir, gostaria de deixar bem claro o caráter incompleto e absolutamente exploratório desta análise, pois, pelo próprio fato de que jamais lidei com os debates intelectuais do período em questão, posso considerá-la apenas como se fosse uma espécie de incursão em terreno desconhecido, incursão autorizada apenas pela qualidade de uma série de estudos recentes que tratam de Nabuco, tanto aqueles que se dedicam ao conjunto da sua reflexão, como os de Mello (2000), Salles (2002), Alencar (2002) e Costa Lima (2002, quanto aqueles, como por exemplo os de Jaguaribe (1994) e de Carvalho (2001), que se concentram de maneira mais específica no exame de Minha formação.Contudo, apesar da já mencionada qualidade que caracteriza a maior parte das últimas con-

Um homem plural e seu(s) tempo(s): revisitando Nabuco e as controvérsias em torno a Minha Formação

“…4 e 5), apresentada pelo Nabuco maduro como uma busca frenética de contatos com personalidades célebres, lugares, monumentos culturais e o que quer que pudesse arrancar "um grito de admiração a um viajante inteligente" (p. 56) -o Nabuco moço, de passagem pela Europa, até poderia tomar como sua uma passagem de Fernando Pessoa: "Tudo me interessa e nada me prende" (Pessoa, 2006: 49). Não me alongarei sobre as considerações que o Nabuco da casa dos 40 faz sobre sua própria psicologia quando rapaz, uma vez que elas já foram objeto de uma detalhada e erudita investigação por Ricardo Benzaquen de Araújo (2004), que encontra interessantes similaridades entre o instável, curioso e hiperestimulado Nabuco da juventude e as descrições do "homem das multidões" por Edgar Allan Poe, da atitude blasé por Simmel e do melancólico segundo a teoria aristotélica dos humores 19 .…”

Subjetividade e “interioridade nacional”: o deslocamento imposto por J. Cabral de M. Neto

“…O trabalho destoa da tematização do conceito de subjetividade que visa entregar o contorno da nacionalidade. A dissonância deve-se menos à declarada preferência do autor pela cultura europeia do que pela imersão do sujeito, em sua juventude, no clima de inconstância e abatimento da melancolia moderna, assim como pela incorporação, na maturidade, de um sentimento que mistura tranquilidade, liberdade e individualidade, garantidos por uma concepção específica de ordem e tradição (BENZAQUEN, 2004). Não sustentando efetivamente um desinteresse pelos rumos do Brasil, a exploração da subjetividade procedida por Nabuco parece inaugurar o "drama existencial dos que se sentem comprometidos com o país, mas, ao mesmo tempo, nele não se integram" (COSTA LIMA, 2002, p. 344).…”

O Bom Filho À Casa Torna: Formação Humanista Europeia E Sentimento Pátrio Em Joaquim Nabuco E Henry James

“…É neste sentido que Ricardo Benzaquen de Araújo chama a atenção para três características com as quais o autor de Minha formação vai tecendo a imagem de sua juventude: "instabilidade, curiosidade e indecisão" (Araújo, 2004):…”

“…Assim, ele teria se aproximado perigosamente, naquele período, do chamado "homem das multidões", título de um conto de Edgar Allan Poe e principal personagem de uma experiência que marcou 4 283 artigo | luiza larangeira da silva mello profundamente o espírito de algumas das metrópoles do século XIX, experiência que, interpretada de acordo com as sugestões de Simmel, envolvia uma intensificação da vida emocional em função de uma contínua e rápida mudança de estímulos, e que costuma ser resumida pela expressão "vivência de choque" (Araújo, 2004).…”