O futuro da representação: nota introdutória

Abstract

A representação política -sua reconfiguração e alargamento -tornou-se tema emergente do debate na teoria democrática e na filosofia política normativa na última década. Há motivos para tanto. Primeiro, a crise do Estado de bemestar e o abandono do desenvolvimentismo no plano das políticas econômicas erodiu os pressupostos distributivistas que acompanharam a construção da democracia de massas. De modo concomitante, as agudas transformações do mercado de trabalho, isto é, a informalização infrene e a precarização, minaram as clivagens "estruturais" que alicerçaram tanto a edificação do sindicalismo como expediente da representação funcional de interesses quanto os partidos de massas como expressão política por excelência dessas clivagens. Partidos políticos desempenham cada vez menos funções de ordenação estável das preferências do eleitorado e têm visto suas funções de intermediação entre políticos e eleitores serem progressivamente absorvidas pelos meios massivos de comunicação. De fato, os diagnósticos sobre a personalização da política graças à mídia são uma constante na literatura dedicada à análise dos processos de reconfiguração da representação.

Como a Representação Política Pode Tornar a Democracia mais Democrática? Ressignificando o Fenômeno Político da Representação a Partir da Teoria Laclauniana

“…Sendo considerada um fenômeno tipicamente moderno, cuja gênese adviria do soberano hobbesiano em Leviatã (PITKIN, 1967), o debate teórico acerca da representação política é recente -as duas obras de referência no campo datam, respectivamente, de 1967(PITKIN, 1967) e 1997(MANIN, 1997. Por um conjunto de fatores contextuais, a representação política constitui na atualidade tema emergente nos campos da teoria democrática e da filosofia política normativa -entre tais fatores, destacam-se as transformações pelas quais vem passando sindicatos e partidos, outrora os incontestáveis articuladores da ordenação das preferências dos representados, o fenômeno da crescente personalização da política via comunicação de massa, e a crescente atuação de entidades e atores investidos da representação de interesses junto ao desenvolvimento das políticas públicas -estando ora sob o fogo cruzado daqueles de vertente mais participacionista, ora sob a defesa intransigente daqueles que a consideram a única solução para a intermediação política numa sociedade de massas (LAVALLE; ARAÚJO, 2006HOUTZAGER;CASTELLO, 2006).…”

Accountability em listas abertas

“…Para uma análise da dinâmica sob o ponto de vista do eleitor, verFigueiredo e Aldé (2005).17 Há quem prefira falar em "reconfiguração" da representação política, evitando o uso da palavra "crise" (e.g GURZA LAVALLE & ARAUJO, 2006)…”