A partir da noção de dupla consciência, observada na obra The souls of black folk (1903), de W. E. B. Du Bois e utilizada como metarreferência discursiva, este artigo, como ensaio teórico, objetiva estabelecer uma reflexão epistemológica que contribua para que a Gestão Social não recaia na patologia da dupla consciência - uma gestão, na forma de ação social, que se credita normativamente emancipatória, mas que representa na materialidade da vida, de modo contraditório, a continuidade de uma realidade social opressora. Para tanto, após a identificação do sentido axiológico atribuído à Gestão Social e o apontamento das principais dificuldades, limitações e críticas mapeadas na literatura especializada, foram trazidas à baila duas temáticas pouco exploradas no âmbito da Gestão Social - relações de poder, consubstanciadas no conceito de colonialidade de poder, e a relação homem/natureza, delineada pelo aspecto da ecologia - a fim de demonstrar que tal gestão, uma gestão-problema, não uma gestão-resposta, deve desenvolver a capacidade de se autoproblematizar, de sentir-se como um problema e de refletir acerca de suas próprias questões não explicitadas. Ao final, após a exposição de um conjunto de caracteres epistemológicos, demonstrou-se que a Gestão Social, para não padecer das lacunas epistemológicas observadas na Gestão Estratégica, rompendo com a tendência de constituir uma antessala epistemológica, ao filtrar seletivamente as realidades observáveis e significativas e, dessa feita, mantendo a coesão social propiciada pela ideologia da gestão hegemônica, ela deve constituir a possibilidade plural de outras gestões, a partir de saberes e prática situados.
Este artigo, ao situar culturalmente os fenômenos da gestão e do desenvolvimento, em sua concepção tradicional, no projeto da modernidade e ao identificar o predomínio da unilateralidade reificada na interface entre gestão e desenvolvimento - a primeira vista como instrumento técnico submisso à via clássica do segundo - almeja evidenciar as potencialidades da compreensão e da construção de alternativas, tanto para a gestão como para o desenvolvimento, a partir da ressignificação dessa interface. Para tanto, o esforço foi direcionado ao resgate do que é comum aos fenômenos da gestão e do desenvolvimento - os substratos antropológico e ecológico -, nucleados nos princípios da reciprocidade dialógica, concretizadora da condição antropológica, e da finitude, caracterizadora da condição ecológica. Ao final, são apresentadas oito potenciais contribuições advindas da exploração renovada da interface entre a gestão e o desenvolvimento. Propôs-se, ainda, a substituição da lógica instrumental da eficiência financeira, comum à concepção tradicional dos fenômenos estudados, pela lógica da simbiose dialógica homem/natureza, uma vez que, como fenômenos sociais, desenvolvimento e gestão, mediados pelo meio, também são ecológicos em sua essência.
Este artigo, na forma de um ensaio teórico, ao buscar resposta para a problemática - o que significa planejar estrategicamente para a sustentabilidade? -, procurou evidenciar a possibilidade tanto de uma gestão mais sustentável, pois considerando a interdependência intrínseca entre homem e meio ambiente natural, quanto de uma sustentabilidade mais humana, porquanto construída a partir de uma ação comunicativa, numa relação linguística travada entre sujeitos, não entre sujeito-objeto. Desse ponto de vista, a perspectiva analítica dominante acerca da sustentabilidade foi contraposta com o paradigma da ecologia profunda e com uma noção de gestão coerente - gestão social. Ao final, foram delineados seis caracteres teórico-conceituais capazes de estabelecer um escorço de contribuição ao tema da sustentabilidade empresarial e das estratégias empresariais decorrentes.
RESUMO Este artigo, na forma de um ensaio teórico, representa esforço reflexivo acerca dos caminhos e alternativas existentes voltados à construção de políticas públicas emancipadoras, tendo por base os resultados obtidos em prática de pesquisa desenvolvida junto ao Território da Cidadania Meio-Oeste Contestado Catarinense. Após contextualização sintética da prática de pesquisa mencionada, expostos os referenciais teóricos de apoio – noções de Gestão Social (Tenório, 2006, 2008a, 2008b, 2010a, 2010b) e de emancipação (Freire, 1979) -, exploraram-se as contribuições do referencial teórico de apoio para a construção de alternativas de políticas públicas emancipadoras, a partir das categorias processo de discussão, autonomia e participação. Como resultado, destacou-se que o principal elemento estruturante de uma política pública que vise à emancipação humana local é o diálogo crítico com os atores que constituem a experiência social envolvente, considerado em termos de processo de discussão, autonomia (cidadania deliberativa) e participação (inclusão, pluralismo e igualdade), tendente ao desenvolvimento das potencialidades do território a partir da comunhão de saberes e ações de transformação. Ao final, à guisa de conclusão, procurou-se demonstrar como as reflexões acerca da construção de políticas públicas emancipadoras podem contribuir para a formulação de políticas ambientais e para a questão da responsabilidade socioambiental empresarial.
<span lang="PT-BR"><p>O presente artigo analisa a experiência do Curso de Bacharelado em Administração Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a partir de um seminário temático sobre Gestão Social ofertado, em 2011, em seis pólos da UFSC no Estado de Santa Catarina, buscando caracterizar a congruência da concepção de educação desenvolvida e da possível formação profissional decorrente com a abordagem da gestão social. A partir de estudo de caso, de caráter qualitativo e orientação descritiva, foram investigadas quatro categorias analíticas - cidadania deliberativa, dimensões epistemológica e profissionalizante do projeto político-pedagógico, além de clareza conceitual e capacidade analítica sobre Gestão Social. Os resultados demonstraram uma orientação à abordagem da educação estratégica em Administração Pública, em que se repetem as mazelas do ensino presencial, ampliando o risco da massificação cognitiva mediante uma racionalidade tecnológica que valoriza meios em detrimento de fins.</p></span>
ResumoEste artigo apresenta uma abordagem da dimensão propositiva de fomento às incubadoras de projetos sociais, por intermédio de proposta pedagógica à luz da gestão social, em desenvolvimento no polo de educação a distância da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Canoinhas, Santa Catarina. Em primeiro plano, com base na concepção dialógica da extensão universitária e nas contribuições de Paulo Freire, da ideia de tecnologias sociais e da noção de gestão social, construída com fundamento nos estudos de Fernando Guilherme Tenório, evidenciou-se o potencial da extensão para a construção da autonomia da comunidade. Em segundo plano, caracterizou-se a atividade da UFSC na região de Canoinhas e sua relação com o Programa Territórios da Cidadania, do governo federal. Em seguida, delineou-se a proposta pedagógica das incubadoras de projetos de gestão social, alicerçada no paradigma paraeconômico de Ramos, na pedagogia da autopoiese, da alternância do encontro e da cultura do serviço e na gestão social. Por fim, apresentou-se agenda de pesquisa em torno da contribuição da gestão social para o desenvolvimento local, a autonomia humana e a formação de gestores mais comprometidos com problemas e interesses da coletividade.Palavras-chave: Gestão social. Tecnologias sociais. Incubadora de projetos sociais. AbstractThis article presents a purposeful approach to increase incubators to promote social projects through a pedagogical proposal in the light of social management, developing the distance learning of the Federal University of Santa Catarina Artigo submetido em 27 de março de 2011 e aceito para publicação em 04 de agosto de 2011.
A partir das formulações de Ernesto Laclau no âmbito da teoria política do discurso, pretende-se compreender como a formação de identidades e demandas políticas, elemento historicamente desconsiderado no tratamento analítico da representação política, encarna a sua própria lógica de funcionamento, e, a partir disso, avançar na ressignificação do elemento da representação para oenriquecimento das formações democráticas atuais, tomando como pressuposto a necessidade de ampliação dos espaços representativos, indo de encontro ao que afirma grande parte das críticas atuais à representação política. A representação política sempre foi analisada apartir de suas variações históricas ou de uma definição geral que peca pelas limitações que carrega, em lugar de ser concebida como uma dimensão da luta política em geral, isto é, como uma lógica inscrita no funcionamento real de todo espaço comunal. A ressignificaçãoda representação política envolve explorar aquilo que, à luz convencional, excederia o conceito, a fim de romper com a representação como forma política dignificada como racional. Uma adequada compreensão de como se constitui a lógica do espaço político, que tema formação das identidades e vontades subjetivas como distintivo, poderá auxiliar nesse intento, pois possibilita avançar para sua lógica interna, deixando de abordá-la numa significação puramente denotativa.
Processo de avaliação por double blind review _________________________ ResumoO presente artigo trata da interface entre as transações da organização com o ambiente e as respectivas estratégias delineadas, inserindo-se no contexto de alargamento das investigações empí-ricas sobre o novo institucionalismo sociológico e sua potencial aplicação ao campo dos estudos em estratégia. A partir de um estudo de caso, de cunho qualitativo, examinou-se a influência do ambiente institucional de referência no direcionamento estratégico do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRESC), formalizado no processo de planejamento estratégico, adotando-se três categorias analítico-empíricas -base estratégica corporativa, agentes externos e campo organizacional. O delineamento da pesquisa foi duplamente amparado, do ponto de vista teórico, por discussões precedentes acerca da noção de ambiente institucional, no contexto do corpus conceitual do novo institucionalismo sociológico, e da noção de estratégia como processo institucionalmente condicionado, numa abordagem construtivista da estratégica. Como resultado, percebeu-se que a lógica de ação institucional envolveu a procura por legitimidade, aceitação e credibilidade junto ao campo organizacional e à sociedade, numa trajetória conservadora, atrelada à concentração em competência técnico-instrumental, com o foco nas eleições e centralização nos processos tecnológicos de registro, apuração e totalização dos votos. Em decorrência, a adaptabilidade e as mudanças necessárias no longo prazo, como a atuação na conscientização política e nos processos deliberativos e dialógicos que fogem ao âmbito político-eleitoral, foram desconsideradas. Desta feita, os elementos institucionais presentes no campo da organização em tela, ao preservarem a sobrevivência da organização num horizonte temporal próximo, podem dificultar a adaptabilidade e as mudanças necessárias no longo prazo, impactando na efetividade do serviço prestado à população. Palavras-chave: Ambiente Institucional. Estraté-gia. Legitimidade. Planejamento Estratégico. Novo Institucionalismo Sociológico. AbstractThis article deals with the interface between the 3
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