Progresso e barb arie estão hoje, como cultura de massa tão enredados que s o uma ascese b arbara contra essa ultima e contra o progresso dos meios seria capaz de produzir de novo a não-barb arie (Adorno, 1993).Se em outros momentos da hist oria a razão esclarecida tinha como objetivo a superac ßão dos mitos e o controle da natureza para a formac ßão de uma sociedade emancipada, na qual fosse poss ıvel os homens se libertarem do medo, alcanc ßarem a felicidade e substitu ırem a imaginac ßão pelo saber, bem como se "tornarem senhores de si", como apontam Horkheimer and Adorno (1985), hoje, falar do desenvolvimento das tecnologias e deparar-se necessariamente com um processo que resulta, nas palavras de Santos (2003, p.232):"numa constante fuga para frente ou numa constante antecipac ßão do futuro", numa racionalizac ßão da vida que leva o homem a submeter-se as m aquinas que ele mesmo construiu, propiciando campo f ertil para um pensamento meramente instrumental a servic ßo da ordem existente. Nesse sentido, as condic ßões objetivas que os homens pensaram que poderiam lhes trazer a liberdade se converteram em uma promessa que não se cumpriu, uma vez que contraditoriamente, o mesmo progresso que aponta para a almejada sa ıda da escuridão e, portanto, para a ruptura de uma comprensão m ıtica do mundo, e aprisionado pelas relac ßões sociais de produc ßão, regidas pela explorac ßão, poder e violência.Freud (1978), ao discutir o conceito de civilizac ßão, apontava que independentemente da "maneira por que possamos definir o conceito de civilizac ßão, constitui fato incontroverso que todas as coisas que buscamos a fim de nos protegermos contra as ameac ßas oriundas das fontes de sofrimento, fazem parte dessa mesma sociedade" (p.147), não sendo, portanto, o sofrimento externo a sociedade, mas parte constitutiva dessa.A recorrente busca pela eliminac ßão dos considerados não adaptados a ordem vigente, por se afastarem do prot otipo de homem ideal, e uma das fontes do sofrimento que, na atualidade, por meio da ciência e das tecnologias gen eticas, tem propiciado, de modo cada vez mais refinado, possibilidades de escolha para que os desejos da prole perfeita sejam satisfeitos grac ßas a chamada reproduc ßão assistida.E aqui reside a constatac ßão de Freud (1978) acerca da contradic ßão cultural que, ao mesmo tempo em que apresenta o desenvolvimento da ciência como possibilidade de superar os sofrimentos humanos, como a fragilidade de nossos pr oprios corpos, não satisfaz esses desejos.ª 2016 NASEN