Introdução, ou aperitivoEste artigo foi construído sobre pesquisas realizadas em diferentes momentos (cf. Nascimento, 1995(cf. Nascimento, , 1999(cf. Nascimento, , 2000 e diálogos com diferentes interlocutores, a partir dos quais as reflexões aqui expostas foram se configurando. O eixo dessas reflexões é o fato de serem pesquisas interessadas em compreender a dimensão de gênero na forma como se apresenta no cotidiano de homens de classes populares, tendo o espaço dos bares como um ambiente sempre presente e a marca do consumo de bebida alcoólica no agenciamento de relações, lugares e pertencimentos.Minha interpretação se insere no âmbito dos estudos que, de acordo com a observação de Delma Pessanha Neves, caracterizam-se pela forma como a antropologia tem tratado a questão do consumo de bebidas alcoólicas e o alcoolismo. Ou seja, evitando a relação com visões moralizantes e buscando a forma como os próprios sujeitos se classificam: "o ato social de ingestão da bebida alcoólica não pode ser estudado sem que sejam levados em consideração os sistemas de crenças no controle do comportamento e da socialização" (Neves, 2004, p. 9). Ainda nessa direção, interessa-me mais a compreensão dos modos como as pessoas se relacionam com o consumo de bebidas alcoólicas, a embriaguez e o alcoolismo, e não o porquê. Mais que uma fuga ao enfrentamento das questões relacionadas ao "uso problemático" da bebida, esta opção reflete o interesse de contribuir para estudos que considerem as dimensões sociais desse uso e menos o "alcoolismo como patologia médico-social" (Neves, 2003, p. 79), sem negar a relevância dos estudos que consideram a relação entre ciência, poder e autoridade na produção de conceitos como dependência e adição (Berridge, 1994, p. 15). Ainda, por se tratarem de reflexões surgidas no âmbito de pesUniversidade Federal da Paraíba (UFPb), João Pessoa -PB, Brasil.