GOMES, R. Violence Against The Health of Street Girls. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (supplement 1): 156-167, 1994. This article is a part of a study focusing on the relationship between child prostitution and the health/disease process as related to sexuality and violence, considering the three categories in the context of street girls. The paper analyzes the violence revealed by the girls themselves. Considerations on violence in general and the research as a whole are introduced first to facilitate an understanding of the purposes of the study. The social actors under study are then characterized. Within that scenario, aspects of the girls' life histories and their views on violence are analyzed in the social context. The conclusion is that such violent situations damages their health directly, leaving deep scars on their bodies and minds.Key words: Sexual Violence; Prostitution; Public Health
INTRODUÇÃOEm nossa sociedade atual, a violência é fato visto e sentido. Apesar dos inúmeros estudos sobre o assunto, alguns equívocos ainda estão presentes no cotidiano social. Em geral, estes equívocos surgem a partir de uma atitude reducionista frente à questão da violência. Um dos exemplos que limitam a compreensão desta questão se refere ao fato de muitos situarem-na apenas no campo do crime. Sabemos que os crimes, enquanto delitos cometidos contra a lei, concretamente revelam a existência da violên-cia, uma vez que podem comprometer a vida de pessoas e de grupos, mas também sabemos que por detrás dos crimes estão presentes outros níveis de violência que necessariamente não se articulam diretamente com os crimes e que nem sempre são percebidos como violência.Outro equívoco comum diz respeito ao fato de se reduzir a violência ao plano do indivíduo. Esta ótica de pensamento ocorre, em primeiro lugar, por um problema conceitual que, segundo Costa (1986), faz com que se confunda violên-cia com agressão. Para este autor, o que existe, a nível do indivíduo, é o instinto agressivo, que tanto pode se associar ao emprego da violência como pode coexistir com a possibilidade de se desejar a paz. Na opinião do autor em questão, a violência é vista como emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos. Fica implí-cita, nesta concepção, uma instância exterior ao indivíduo que determina o início da violência e decreta o seu fim.Com base em Vithencourt (1990), podemos assinalar um segundo aspecto que contribui para a "individualização" da violência. Este aspecto se relaciona à forma de conceber as instâncias individual e social dicotomicamente separadas. Se não compreendemos as relações dialéticas entre essas instâncias, dificilmente conseguiremos perceber o emolduramento social da violência. Neste sentido, segundo o autor, para se compreender a violência não se pode diluir a sociogênese na psicogênese, e vice-versa. Com esta advertência, ele pretende, de um lado, indicar que a violência coletiva deve ser referencial, para melhor entendermos as ações violentas manifestadas pelas pessoas, e, de outro, ele quer mostr...