Por que duas palavras para dizer a mesma coisa?É que aquele que a diz, é sempre o outro. Nietzsche
INTRODUÇÃOO fenômeno da deriva no uso escrito formal do português brasileiro é um tema que venho desenvolvendo há algum tempo. Este trabalho é parte de uma pesquisa que objetiva, além da observação e descrição do fenômeno do ponto de vista discursivo, detectar suas implicações normativas e consequências para a pedagogia da língua. Tenho estudado ocorrências linguísticas em trabalhos acadêmicos, revistas, jornais etc., que vão desde aspectos morfológicos até a organização sintática e semântica (estrutura, concordância, coerência...), tendo como referência metodológica os aparatos de gramatização (gramáticas, dicionários, manuais)1 . O material de que disponho vem sendo coletado tendo como limite inicial o ano de 1990.Na abordagem discursiva, a deriva é vista como um conjunto de deslocamentos em vários níveis e categorias das línguas, de cunho sócio-histórico, com relação a um referencial que é tomado como padrão ("centro") e ao referencial (relativo) representado pelo estado atual (instável) no uso de uma língua. Não se considera, nesse contexto, que haja um "desvio" * UNISUL. 1 A gramatização é um processo iniciado no Renascimento europeu "[...] que conduz a produzir dicionários e gramáticas de todas as línguas do mundo [...] na base da tradição greco-latina" (AUROUX, 1992, p. 8). Tratada como revolução tecnológica, a gramatização serve como meio de conhecimento e dominação de culturas.