A construção de parcerias pelo Brasil tem sido objeto de pouco estudo nos anos recentes, apesar da crescente importância que vem assumindo no contexto da política exterior brasileira enquanto forma de realizar objetivos e interesses no plano externo e de definir padrões de relacionamento com países individualmente e, também, com os principais blocos econômicos. O crescente leque de opções que o Brasil vem procurando explorar, no âmbito regional, como em outras áreas, não está desvinculado de sua projeção no Mercado Comum do Sul (Mercosul), acarretando, por conseguinte, oportunidades e também possíveis dificuldades no que se refere ao relacionamento nesse âmbito, notadamente, com a Argentina, e às vinculações externas do próprio Mercosul.Com o propósito de analisar as implicações para o Mercosul do esforço brasileiro de construir parcerias internacionais, procuraremos, antes, contextualizá-las historicamente, percorrendo distintos períodos da evolução da política externa brasileira para identificar a natureza das mesmas e caracterizar seu sentido de funcionalidade frente aos objetivos e prioridades estabelecidas em cada período. Isso se faz necessário não apenas para prover informações quanto aos antecedentes do esforço de construção de parcerias ora empreendido, mas, sobretudo, porque a política externa brasileira reflete, em sua evolução, um forte impulso de permanência, especialmente no que se refere à projeção de interesses do Estado. O entendimento quanto ao sentido de parcerias estratégicas a ser considerado na presente análise as associa à condição de relacionamento privilegiado, em nível bilateral, para a realização de interesses (não necessariamente comuns), tidos como importantes para consecução de objetivos internos e/ou externos de parte dos Estados que as constituem. Argumenta-se que a construção de parcerias, pelo Brasil, esteve sempre voltada para o acesso a recursos, insumos e oportunidades a serem canalizados Rev. Bras. Polít. Int. 42 O texto está assim estruturado: na primeira parte, discute-se o caráter universalista da política externa como condicionante da construção de parcerias; na segunda, procede-se a uma breve análise retrospectiva de como as parcerias estratégicas vincularam-se, em distintos momentos, às prioridades definidas em sucessivos períodos da política externa brasileira a partir dos anos cinqüenta. A terceira parte enfoca o redirecionamento das parcerias estratégicas em razão das mudanças ocorridas no plano externo e internamente no Brasil, com a introdução de um novo modelo econômico a partir do início dos anos noventa; em seguida, são analisadas as prioridades da atual política externa brasileira e as implicações em termos de construção de parcerias internacionais e os desdobramentos destas para o Mercosul.
1-Universalidade da política externa brasileira como âmbito da construção de parcerias estratégicasSão recorrentes, no discurso diplomático e nas análises sobre a política externa brasileira, as alusões à sua universalidade. Esse caráter universalista associa-se às carac...