Este trabalho visa analisar como e em que sentido as transformações ocorridas na estrutura das relações internacionais se refletem na agenda internacional. Ao longo do último quarto deste século, um fenômeno tão central como a Guerra Fria deixou de existir sem que estudiosos de qualquer tendência tivessem previsto sua ocorrência e, em seu rastro, uma variada gama de temas passaram a ocupar as atenções dos analistas e formuladores de política. Hoje, está bastante claro que esse fenômeno está relacionado com mudanças complexas e inter-relacionadas entre si na tecnologia, na estrutura da produção e do comércio, nos fluxos financeiros e nas relações de poder.A agenda internacional caracteriza-se pela mudança contínua. Essa característica é uma decorrência da própria natureza do meio internacional, composto de atores em contínua transformação, e também altamente sensível a mudanças nos padrões econômicos e sociais. Mudanças tecnológicas, por exemplo, em um curto espaço de tempo, podem alterar fluxos comerciais e financeiros tornando um grande negócio de hoje uma atividade econômica inviável amanhã. Disponibilidade de mão de obra e de recursos naturais deixaram de ser, a médio prazo, garantias para as nações. Mesmo estruturas industriais maduras, para não serem ultrapassadas, precisam modernizar-se continuamente tanto do ponto de vista tecnológico quanto administrativo. Essas mudanças, obviamente, não ocorrem de maneira uniforme. Países e regiões não se transformam na mesma direção e quando, porventura, o sentido das mudanças pode ser considerado semelhante, a velocidade com que esse processo ocorre difere substancialmente de lugar para lugar. Além disso, fatores mais difíceis de serem percebidos e quantificados como os de base cultural e étnica podem combinar-se de muitas maneiras, em geral imprevisíveis, produzindo fatos e circunstâncias que condicionam a agenda internacional.Na imprensa dos anos 60, a corrida armamentista entre a OTAN e o Pacto de Varsóvia ocupava lugar de destaque, ao lado de focos de tensão Rev. Bras. Polít. Int. 43 (1): 138-169 [2000]
A existência de um Conselho de Segurança e o direito de veto reservado às grandes potências, reconhecendo explicitamente, portanto, uma hierarquia entre Estados no cenário internacional, foram condições que asseguraram a própria existência da ONU. Sem o instituto do veto, certamente teria sido muito mais difícil construir um consenso entre os Estados Unidos, a União Soviética e a Grã-Bretanha ao final da Segunda Guerra Mundial com vistas à criação da nova Organização. Esse dispositivo, no entanto, significa apenas a parte mais visível
A disseminação da industrialização e da modernidade para todas as sociedades fez com que uma das dimensões marcantes nas relações internacionais desde a Segunda Guerra Mundial fosse a expansão e institucionalização da cooperação internacional.Os governos, sejam eles de grande ou pequena expressão nos foros internacionais, passaram a integrar uma intrincada rede de instituições disseminadoras de padrões de conduta e procedimentos técnicos por diferentes sociedades, consolidando a cooperação como uma vertente de longo prazo da política externa dos países. Em última instância, a cooperação constitui-se no canal pelo qual uma nação mantém-se conectada com padrões econômicos e sociais predominantes e com as principais tendências em curso no plano da ciência e do conhecimento, bem como de suas aplicações e benefícios. O crescente avanço dos mecanismos de cooperação significa novas oportunidades e novos problemas que, por sua vez, passam a demandar a construção de sistemas de cooperação internacional mais coerentes e compatíveis entre si, seja em suas práticas, seja em suas instituições. Essa tendência defronta-se com outros problemas de caráter estrutural, o dilema entre interesses de curto-prazo e benefícios de longo-prazo e a necessidade de abordagens mais integradas, dada a crescente incapacidade de enfrentar fenômenos sociais e políticos complexos com a lógica arcaica da especialização.
Este trabalho não pretende enumerar o que houve de relevante na política externa brasileira em termos fatuais, mas sim tentar identificar inflexões ou mudanças significativas ocorridos nos padrões de relacionamento externo do País ao longo dos últimos 40 anos. Procurar-se-á, na medida do possível, cotejar essas mudanças tanto com a conjuntura internacional quanto com as condições políticas e econômicas internas. Nessa perspectiva, duas facetas ou vertentes podem ser estabelecidas, no âmbito das quais as relações externas brasileiras foram sendo ajustadas: de um lado, a inserção econômica internacional do Brasil e, de outro, as relações do País com a agenda de segurança internacional. Em termos teóricos, pode-se dizer que, ao menos como ponto de partida, toma-se emprestado do realismo político a clássica dicotomia entre "low politics" e "high politics". Esse corte de análise ajuda no entendimento do que pode ter ocorrido com os padrões de associação externa do País: as relações com os Estados Unidos, com a Argentina e os países da região, até a crescente importância do multilateralismo e das relações globais, num ambiente em que, paradoxalmente, o poder da ação do Estado sofre erosão em muitos aspectos tradicionais. Nessa perspectiva, pelo menos três inflexões ou mudanças centrais podem ser identificadas no período que vai desde o Governo JK até nossos dias: o abandono do "Paradigma Rio-Branco", que colocava os EUA como centro pivotal da política externa brasileira; a ampliação das opções de parcerias internacionais associada ao aumento e diversificação da base econômica; e a crescente importância do multilateralismo num contexto de globalização. O abandono do Paradigma Rio-BrancoO Governo JK pode ser dividido em duas fases distintas: até 1957, quando o País viveu um período de grande otimismo desenvolvimentista, e de 1958 até o fim do mandato, que foi um período marcado por dificuldades externas onde as negociações com os Estados Unidos se mostravam difíceis e pouco produtivas. De um lado, havia problemas com o endividamento externo e com as limitações de uma economia pouco diversificada, em estágio precário de industrialização, enquanto, de outro, os Estados Unidos passavam a se preocupar com questões mundiais, deixando as relações regionais em segundo plano. Essa conjuntura deve _____________________________________________________________________________________________________ Rev. Bras. Polít. Int. 41 (n. esp. 40 anos): 8-28 [1998]
Este trabalho tem como objetivo discutir os atuais desafios do multilateralismo tradicional no comércio, visíveis nos impasses da Rodada Doha, diante das novas realidades do comércio internacional globalizado, caracterizado pela dispersão e fragmentação da produção sob a lógica das cadeias de valor globais (CVG). O artigo discute a forma em que essas transformações estão desafiando pressupostos tradicionais do sistema multilateral de comércio e as negociações da Rodada Doha. Tomando o caso do Brasil como exemplo, o artigo argumenta que o descompasso entre a agenda negociadora e as novas realidades do comércio internacional reside nos próprios países-membros da OMC que, em sua maioria, ainda não pautam suas políticas comerciais e suas estratégias de inserção internacional por essas novas dinâmicas do comércio internacional. Por fim, o trabalho mostra que a política comercial brasileira durante a última década esteve desalinhada com essa nova realidade ao dar demasiada ênfase às formas tradicionais de negociação comercial, deixando de considerar as modificações essenciais ocorridas nos padrões de comércio na esteira do processo de globalização.
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