De "corações de pedra" a "corações de carne": algumas considerações sobre a conversão de "bandidos" a igrejas evangélicas pentecostais

Abstract

andidos" e "crentes" convivem diariamente nas favelas das grandes cidades brasileiras. Como já mostraram alguns autores (Almeida e Montero, 1994;Fernandes, 1998), o pentecostalismo cresce com maior velocidade entre as camadas mais empobrecidas da população. E as áreas mais pobres das grandes cidades são também as que mais sofrem com o problema da violência, seja devido à presença autoritária e violenta de quadrilhas de narcotraficantes (Cano, 1995) seja por conta da violência policial (Cano, 1997). Denominações como a Assembleia de Deus tendem a se destacar mais nesses contextos 1 . Mafra (1998), por exemplo, ressalta que os pentecostais dão respostas de caráter espiritual ao problema da violência, de modo que não criam uma oposição direta em relação ao tráfico, ou melhor, não criam um movimento de afastamento dos "crentes" em relação aos "bandidos" -mesmo que os primeiros vejam os segundos como parte do "exército do Demônio". Ao contrário, o caráter proselitista do pentecostalismo produz uma aproximação bastante significativa entre esses dois grupos -embora esse acercamento seja sempre realizado de maneira cuidadosa pelos fiéis pentecostais, pois estes geralmente temem uma "poluição moral" quando estabelecem tais contatos (Teixeira, 2008).

"Prostituição Sagrada" e a Prostituta como Objeto Preferencial de Conversão dos "Crentes"

“…Ao lado desse modelo, voltamos nosso olhar para uma categoria observada no campo evangélico pentecostal de "ex-prostituta", como categoria que agrega determinado capital simbólico a essa crente convertida. Pesquisadores da conversão ao (neo)pentecostalismo já apontaram este processo tão especial de atribuição de valor a experiências de vida malditas a partir de sua ressignificação e reposicionamento na biografia dos sujeitos (Cortês 2014, Machado 2014, Teixeira 2011, Cunha 2008, 2015 trazem aspectos específicos do referido processo).…”

A "Política Dos Terreiros" Contra O Racismo Religioso E as Políticas "Cristofascistas"

“…O esforço para compreender as relações entre criminosos e as religiões neopentecostais surgiu a partir do final dos anos 1990, no Rio de Janeiro, com o aparecimento da "Teologia do Domínio" e "Batalha Espiritual" (Vital da Cunha, 2014;Silva, 2007). Revelou-se um cenário de conversão de traficantes nas favelas fluminenses associado a um fenômeno crescente de atentados aos terreiros de Umbanda e Candomblé, nos quais se retoma a narrativa de associação do demônio/diabo às entidades de matriz africana por essas igrejas.…”

“…Revelou-se um cenário de conversão de traficantes nas favelas fluminenses associado a um fenômeno crescente de atentados aos terreiros de Umbanda e Candomblé, nos quais se retoma a narrativa de associação do demônio/diabo às entidades de matriz africana por essas igrejas. É nesse contexto que emergem, na literatura especializada, as categorias "traficante evangélico" (Vital da Cunha, 2014), "ex-bandido" (Teixeira, 2009(Teixeira, , 2011, "traficante evangelizado" (Silva, 2016(Silva, , 2019 que buscam descrever a auto e hetero identificação desses atores, destacando como a atuação nos ataques aos terreiros é parte do processo de suas conversões ao neopentecostalismo, o que não implica no abandono total de suas vinculações ao tráfico de drogas ou outras práticas criminosas.…”

“Terreiro politics” against religious racism and “christofascist” politics

“…In the spiritual narratives produced by these religious ideologies the devil and demons are associated with African origin spiritual entities. It is in this context that the categories "evangelical drug dealer" (Vital da Cunha 2014), "ex-bandit" (Teixeira 2009(Teixeira , 2011, and "evangelized drug dealer" (Silva 2016(Silva , 2019 emerge in the specialized literature, seeking to describe the self-and the hetero-identification of these actors.…”