Nathan Willig Lima [nathan.lima@ufrgs.br] Matheus Monteiro Nascimento [matheus.monteiro@ufrgs.br] Fernanda Ostermann [fernanda.ostermann@ufrgs.br] Cláudio José de Holanda Cavalcanti [claudio.cavalcanti@ufgrs.br] Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS.
ResumoA linguagem e o discurso desempenham um papel importante nos Estudos das Ciências (Science Studies) e na Pesquisa em Educação em Ciências. Nesse artigo, buscamos contribuir para essa tendência de pesquisa apresentando uma discussão sobre a Teoria do Enunciado Concreto de Bakhtin. Em especial, discutimos como a visão de mundo de Bakhtin se opõe à metafísica kantiana e se apoia em uma filosofia fenomenológica, influenciada pela Física Moderna, pelo Marxismo e pela monadologia de Leibiniz. À luz dessa discussão filosófica, apresentamos, então, sua Teoria do Enunciado Concreto e traduzimos sua visão de mundo em possíveis reflexões metodológicas para os Estudos das Ciências e para a Pesquisa em Educação em Ciências. A partir disso, fazemos uma proposta de "trajetória analítica", a qual serve como uma sugestão de possível organização da Interpretação Metalinguística de Bakhtin. Por fim, exemplificamos a utilização de tal trajetória analítica.
Palavras-Chave:Bakhtin; Metalinguística; Análise do Discurso; Linguagem.
AbstractLanguage and discourse play an important role in Science Studies and in the Research in Science Education. In this article, we seek to contribute to this research trend by discussing Bakhtin's Theory of Concrete Utterance. We discuss how Bakhtin's world view opposes Kantian metaphysics and rests on a phenomenological philosophy, influenced by Modern Physics, Marxism and Leibiniz's monadology. Under the light of this philosophical discussion, we present his Theory of Concrete Utterance and we translate his worldview into possible methodological reflections for Science Studies and for the Research in Science Education. From this perspective, we make a proposal of "analytical trajectory", which serves as a suggestion of a possible organization of Bakhtin's Metalinguistic Interpretation. Finally, we exemplify the use of such analytical trajectory.
INTRODUÇÃOO século XX é marcado pela ascensão de diferentes tendências filosóficas, como a valorização da empiria (positivismo lógico), do "mundo da vida" (fenomenologia) e da matéria (marxismo). Em especial, a partir dos escritos de Ludwig Wittgenstein (1889-1951, a linguagem ganhou destaque como objeto de estudo para muitos pesquisadores, desempenhando não só um papel na descrição do mundo; mas sendo, outrossim, parte do mundo: "A linguagem tornou-se, em si, sua própria lei e seu próprio mundo" (Latour, 2013, p. 63). Nesse sentido, diferentes visões ontológicas e epistemológicas fundamentaram estudos semióticos, linguísticos e discursivos.