Escrita Infantil: A Circulação Da Criança Por Representações Sobre Gêneros Discursivos

Abstract

• RESUMO: O propósito deste artigo é o de refletir sobre a circulação imaginária das crianças por representações sobre gêneros discursivos. Tem-se como objetivo mais específico investigar como a circulação por essas representações mostra-se na projeção que a criança faz de um (ou mais) destinatário(s) para o (seu) enunciado. Para a realização deste estudo, assume-se o conceito de gênero do discurso como proposto por Bakhtin (2000). Na análise dos enunciados escritos infantis selecionados, privilegiou-se um traço, essencial e constitutivo, dessa definição de gênero: o fato de os tipos relativamente estáveis de enunciados terem, sempre, um direcionamento, um endereçamento (BAKHTIN, 2000). Partindo dos conceitos de endereçamento e de outro -este último segundo a proposta de Authier-Revuz (1982, 1990) -, supõe-se que, em enunciações escritas ou faladas, o sujeito precisa negociar com os outros (outros dizeres, outros registros, outros significantes e, também, outros destinatários) que o constituem e determinam a emergência dos enunciados que produz. A análise dos enunciados infantis permitiu observar dois fatos importantes e interligados: a não univocidade e a flutuação no endereçamento desses enunciados.• PALAVRAS-CHAVE: Aquisição da escrita. Gêneros do discurso. Relações intergenéricas. A história da água limpa.A água linpa tem o ingrediente da água. Os ingredientes é areia fina -areia grossa e pedra cascalio. Para Bens Cristiane e Renata e Eduardo.(Texto produzido por um aluno da segunda série do Ensino Fundamental) IntroduçãoEnunciados como o apresentado em epígrafe, produzidos por diferentes crianças em resposta à solicitação de um pesquisador para que relatassem e/ou

Para uma abordagem linguístico-discursiva da justaposição oracional: oral e escrito em práticas de letramento

“…One discursive issue which is relevant for this work and aligns with the results presented by Capristano and Oliveira (2014) is the representation made by the writer of the other/recipient of the utterance, which emerges in the texts simultaneously referring to: (i) the school institution other who must be acknowledged, since all texts belong to an educational macro DT, as a writing tradition set exclusively in the formal school context; 19 (ii) the professor/researcher other; and (iii) the direct participant/interlocutor other in the dialog.…”

“…In this setting, the use of juxtapositions is a gesture of the child/writer indicating the fact that they rely on this knowledge shared with their other/recipient/reader at the moment of enunciation. In line with Capristano and Oliveira (2014) and Corrêa (2004), I propose that, based on the belief that the context in which the utterance has been made is moulded in their writing, children join clauses by juxtaposition without using tactic junction mechanisms to express the codification of the various meaning relations, just as they follow other strategies, e.g. using definite nominal expressions and pronouns without referents (CAPRISTANO; OLIVEIRA, 2014).…”

“…In addition to the role of orality come the traditions related to the image of writing conveyed by school and the heterogeneous nature of writing. The oral and formal traditions and this image of writing are connected 8 The same approach is followed by Capristano and Oliveira (2014) based on discursive genres from a Bakhtinian perspective. What I call traditional here corresponds to discursive genres, but might also correspond to other instances not related to them, such as linguistic constructions, forms of treatment etc.…”

“…to the presence of the other, a physically present or represented interlocutor and the point of reference needed for the subject and his writing process (CAPRISTANO;OLIVEIRA, 2014).…”

“…Regarding these texts, I would stress: (i) the representation of the other/recipient as the person receiving instructions to prepare the recipe, step by step and on-line, illustrated by the use of the pronoun you 12 , which indicates that this utterance is addressed to an anonymous other/recipient; (ii) the use of verbs in imperative related to the purpose of ensuring a proper reading and interpretation of the utterances in the written mode of enunciation; 13 (iii) the simultaneity between these utterances and the time/moment of enunciation, in the same iconic action sequence expressed by the semantics of the juxtapositions highlighted in bold: 12 The use of you in children's utterances found in recipes, reports, among others, apparently is related to television shows where several activities, including recipes, are taught to an anonymous audience (CAPRISTANO; OLIVEIRA, 2014;KOMESU, 2003), as well as the contact to relatives -mothers, grandmothers -who make similar utterances when doing certain tasks.…”