Sentidos da alimentação fora do lar para homens idosos que moram sozinhos

Abstract

Resumo Este artigo objetivou analisar o universo de significação da alimentação fora do lar de um grupo de homens idosos, articulando elementos de disciplinas da Saúde e das Ciências Sociais e Humanas. Os homens moravam sozinhos e eram frequentadores do Programa de Extensão Grupo Renascer, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. A partir de observações diretas, entrevistas informais e entrevistas em profundidade e utilizando-se da Análise do Discurso, partindo de uma perspectiva de mosaico cultural, analisou-se esse espaço social da alimentação fora do lar como promotor de diferentes estilos de interação e coesão social para esse grupo. Verificou-se que aposentadoria, viuvez e saída dos filhos de casa estão relacionadas às mudanças nas práticas alimentares do grupo. E que, além do desinteresse em preparar as refeições, havia uma busca por ambientes mais propícios a novas relações sociais. O comer fora de casa assume um sentido de socialização como representando uma inclusão no mundo globalizado. Frequentar praças de alimentação, especialmente quando se está sem companhia, se mostrou mais interessante para os idosos do que despender tempo na cozinha para o preparo de uma refeição que não seria compartilhada. Tanto comer fora quanto comprar comida fora para comer em casa motivaram novos tipos de relacionamentos sociais nessa população.

Evolução do consumo de alimentos fora do domicílio no Brasil de 2008–2009 a 2017–2018

“…Estudo qualitativo realizado com homens idosos que moravam sozinhos no Rio de Janeiro (RJ) apontou, a partir de entrevistas informais e em profundidade, que a alimentação fora do lar promove diferentes tipos de interação e coesão social. Os autores verificaram que aposentadoria, viuvez e saída dos filhos de casa estavam relacionadas a mudanças nas práticas alimentares do grupo, e que havia uma busca por ambientes mais propícios a novas relações sociais, incluindo o hábito de comer fora de casa 27 .…”

Aposentadoria, alimentação e fatores de risco à saúde no Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil)

“…Uma característica importante que influencia a adoção de hábitos alimentares é o fato de o idoso ter com quem compartilhar as refeições (CAMPOS; MONTEIRO; ORNELAS, 2008;CAVALCANTE et al, 2015;GOMES;SOARES;GONÇALVES, 2016). Os idosos que moram sozinhos podem adotar o hábito de fazer as refeições em praças de alimentação ou restaurantes apenas pela sensação de sentirem-se incluídos e acompanhados pelas pessoas desses lugares (CAVALCANTE et al, 2015).…”

“…Além disso, a separação ou viuvez e o fato de os filhos saírem de casa são apresentados como os principais motivos para a falta de interesse de homens idosos dedicarem tempo ao preparo dos alimentos (CAVALCANTE et al, 2015). Com relação às diferenças entre homens e mulheres, mesmo com alguma tendência de melhora da alimentação com a aposentadoria, as mulheres estão menos expostas que os homens a fatores de risco como consumo de bebidas alcóolicas e usualmente já teriam uma melhor consciência em relação à alimentação (GOMES; SOARES;…”

“…Com uma rotina mais flexível, as refeições são realizadas mais frequentemente na residência com alimentos mais saudáveis (PLESSZ et al, 2015). Entretanto, algumas diferenças por sexo e constituição do arranjo familiar podem estimular o hábito de preparar refeições ou então favorecer a procura por restaurantes, além da aquisição de alimentos prontos para o seu consumo em casa (CAVALCANTE et al, 2015;HELLDÁN et al, 2012).…”

“…Com o envelhecimento, a alimentação pode sofrer modificações devido ao desenvolvimento de doenças ou por orientação de profissionais de saúde (IRZ et al, 2014). Além disso, a perda do cônjuge e a ausência de pessoas em casa durante o dia ou à noite podem desestimular a alimentação e a sensação de isolamento pode surgir com a aposentadoria (CAVALCANTE et al, 2015).…”