Introduction - Anthropology and Knowledge Production in a 'Minefield'

Para além da ciência e do anthropos: deslocamentos da antropologia da ciência e da tecnologia no Brasil

“…Na sombra das tragédias de Mariana e Brumadinho, vemos que o olhar antropológico para problemas de extração de recursos, conflitos ambientais e a produção do capitalismo e suas tecnociências associadas envolve temas clássicos e contemporâneos da disciplina, necessários para enfrentar questões cada vez mais prementes, que colocam nossa existência no planeta em questão. Zhouri (2017), por exemplo, na introdução desse dossiê, propõe questões importantes para a antropologia da mineração que dialogam com a ACT na medida em que implicam questionar-se sobre grandes infraestruturas tecnológicas (de extração de recursos, por exemplo) e sua conexão com relações sociais de poder locais e globais, conflitos e disputas entre grupos. A autora indica também dilemas para a antropologia quando se insere nesses campos, que incluem, entre outros, a demanda por parte dos atores dessas arenas de conflito para que os/as antropólogos/as ajam como especialistas, consultores/as e mediadores/as.…”

“…A autora indica também dilemas para a antropologia quando se insere nesses campos, que incluem, entre outros, a demanda por parte dos atores dessas arenas de conflito para que os/as antropólogos/as ajam como especialistas, consultores/as e mediadores/as. Tais demandas, ao mesmo tempo que ampliam o horizonte da prática antropológica nesses campos, multiplicam, segundo Zhouri (2017), os dilemas éticos, metodológicos e morais associados a esse tipo de pesquisa. De fato, tais dilemas são ainda um tópico incipiente na nossa reflexão e apontam caminhos produtivos em um período de multiplicação de desastres envolvendo práticas de extração de recursos.…”

A lama e suas marcas: neoextrativismo e seus efeitos em um contexto de desastre

“…Com efeito, multiplicaram-se as intervenções previstas nos territórios, incluindo o planejamento, funcionamento e/ou licenciamento de nove minerodutos em Minas Gerais. Nesse contexto, os movimentos ascensão e retração dos preços e as formas de resposta das corporações a tais oscilações contribuem para a proliferação das ameaças, já que a intensificação da produção é acompanhada por correspondentes esforços de aceleração e flexibilização dos processos de licenciamento ambiental (Zhouri, 2017). Com efeito, riscos e desastres são forjados na confluência de fatores estruturais, organizacionais e operacionais (Porto, 2000) relativos à conjuntura de expansão das fronteiras minerárias, com a consequente vulnerabilização dos segmentos sociais afetados.…”