É notório que as cores e a bandeira do Brasil se tornaram símbolos de apoio ao bolsonarismo a partir das eleições presidenciais de 2018. O objetivo é analisar a mobilização de um ethos efetivo político nas eleições de 2022 através do uso da bandeira nacional como vetor de um enunciado aderente de apoio a Bolsonaro. Tomamos por base um recorte da teoria enunciativo-discursiva de Dominique Maingueneau (2008a, 2020a, 2020b) quanto ao interdiscurso, à cenografia e ao ethos discursivo como imagem de si, mobilizados em torno da recente noção de “enunciado aderente”, proposta pelo linguista em 2019; esses conceitos serão investigados sob a problemática do pré-discurso e da estereotipia, conforme Amossy e Pierrot (2022). A pesquisa é exploratória, bibliográfica, qualitativa e de natureza aplicada. O corpus, objeto de análise, constitui-se por fotografias divulgadas em jornais brasileiros que retratam o uso político da bandeira nacional em janelas de apartamentos e em automóveis. Como resultado, destacamos que a bandeira do Brasil, ligada a um pré-discurso de identificação com o mundo ético de valores direitistas e ultradireitistas pós-2018, é utilizada e amplamente reconhecida como símbolo de apoio a Bolsonaro porque incorpora, como vetor, o enunciado aderente “eu apoio Jair Bolsonaro”, o que transformou sua exibição em carros e prédios, durante as semanas que antecederam as eleições de 2022, em uma mensagem política que permite a seu enunciador aderir a um corpo público enunciante de apoio ao bolsonarismo.