Joan C. Tronto. Caring democracy: Markets, equality, and justice

Abstract

Em Caring democracy, Joan Tronto tem como uma de suas principais preocupações afirmar e analisar a relação entre democracia e cuidado. Para a autora, os dois conceitos, embora não se confundam, mantêm uma estreita relação política, de forma que a melhora de um exige a melhora do outro: o déficit democrático está relacionado ao déficit do cuidado, e é importante que tal relação seja notada, assumida e levada a sério para que as transformações possam ser, de fato, reais e profundas. É preciso se (re)pensar então a democracia, tomando o cuidado como um elemento central dela (na medida em que é um elemento central da vida dos cidadãos), e se (re)pensar o cuidado, tomando-o como elemento central que necessita de uma prática democrática. De forma mais simples, aquilo em que Tronto acredita é que um cuidado democrático gera um melhor cuidado, e um melhor cuidado gera uma melhor democracia (p. 155). Dessa forma, aspectos importantes à democracia, como os conceitos de liberdade, igualdade, justiça, assim como questões relativas à participação política, à divisão social e sexual do trabalho e à desigualdade de raça/etnia e classe, são tratados sob uma ótica que traz o cuidado como elemento central, ou seja, para autora, esses conceitos e questões devem ser revistos e pensados tendo como aspiração melhores práticas de cuidado (mais democráticas) e, consequentemente, uma melhor democracia. Ao mesmo tempo, este (re)pensar do cuidado e da democracia proposto, acompanhado de uma discussão séria a respeito desses conceitos e questões (e do papel que têm nessa relação), deve levar em consideração o contexto político-econômico atual e entender que,

A politicidade do cuidado na crítica aos estereótipos de gênero

“…In opposition, the concept of care in the democratic light is perceived as "an activity inherent to the species that includes all we can do to keep, continue and repair our world, so we can live in it the best way possible" (14) . In other words, care would be a core element of human life, relational, embedded in power disputes and not only something good (16) . According to this theory, three situations result in care inequalities (14)(15) : a -when the political difference between required care (when the person cannot do it by herself and needs help such as children, diseased individuals and elderly people) and of services (where the person can do it but decides not to do it, like chores, hygiene, cleaning) is not considered; b -when care is considered as a global merchandise where immigrants, women and black women deliver services in sub-citizenship conditions both in their countries and in those they selected to emigrate to; c -when there are dualisms between who offers and who receives care, masking the vulnerability of those providing care services.…”

“…Over-valuation of care as a solution to deep gender inequalities is insufficient to expand women's citizenship if we consider the antagonisms of power that makes up social inequalities. Tronto seems to come around to the romantic concepts of care ethics that forgets to mention how care could cope with deep structural inequalities of society modeled on complex networks and expressions of power in culture, society, economy and politics (13,16) . The only way out for those who defend themselves through care politicity is a power that should be contained by another power or counterpower strong enough to generate ruptures and innovation in social relations.…”

“…The insufficient criticism towards gender issues is also found in the literature review that justifies this study, considering that the authors highlight the greater professional valuation (30) as an advantage to men entering the profession. As is widely known, delegating the women's emancipation in nursing to the male universe -which has historically produced discourses favorable to their supremacy over women -not only remains in the illusory field, but also ratifies the patriarchy and women's custody by men (11)(12)(13)(14)(15)(16) . Regarding the elements that influence men entering the profession, these are also sexist and include (30) : a) despite the nuisance caused by entering a typically female profession, they feel comfortable in assuming differentiation strategies regarding their co-workers; b) the reasons for men entering nursing are lack of job, personal reasons or as a second option; c) the challenges they face in nursing consists of contact with the females, the subordinate and socially devaluated nature of care; d) the pictorial stereotype of the profession questions men's skills towards providing care; e) despite the gender contradictions, men take on leadership roles, advance faster and earn more than women; f) men are better treated in the profession by their co-workers or other men.…”

Cuidado em território de exclusão social: covid-19 expõe marcas coloniais

“…Ao valorizar o trabalho de cuidado executado por mulheres, essas teóricas ressaltam a responsabilidade do cuidar de si, do outro e do ambiente, relacionando o cuidado à representação política, às políticas públicas e à democracia. Joan Tronto, por exemplo, em Caring democracy relaciona democracia e cuidado, observando uma relação interdependente: a busca por justiça deve ser discutida a partir de um elemento central, o cuidado (Mota, 2015).…”