A pandemia de Covid-19 narrada por mulheres: o que dizem as profissionais de saúde?

Abstract

RESUMO Este artigo objetivou investigar narrativas de mulheres brasileiras que trabalham como profissionais de saúde no contexto da pandemia de Covid-19. Parte de uma pesquisa que discute as repercussões subjetivas desse contexto, a partir da perspectiva de gênero, para a qual foi construído um questionário on-line, que convida as mulheres a narrar suas vivências. A investigação foi desenvolvida no âmbito da psicologia, articulando os métodos psicanalítico e fenomenológico, aliados às teorias feministas, em prol de uma análise crítica e situada de fenômenos contemporâneos. A análise qualitativa dos relatos de 602 mulheres levou a diferentes aspectos, dentre os quais se destaca a intensificação das exigências de cuidado, seja no âmbito familiar, seja no âmbito profissional, o que as leva a desconsiderar o autocuidado. Ao mesmo tempo, a exposição ao risco e o medo constante parecem levar à ocorrência de um contágio psíquico a partir do contato com os pacientes acometidos pela Covid-19, o que produz sofrimento intenso. Os resultados evidenciam como as questões de gênero repercutem nas mulheres que trabalham na área da saúde, reafirmando a necessidade de considerar as especificidades desse público na elaboração de políticas públicas e dispositivos de atenção em saúde mental.

Prevalência de fadiga zoom e fatores associados entre estudantes da área saúde do estado do Ceará, Brasil

“…Durante a pandemia, 50% das mulheres brasileiras passaram a cuidar de alguém, associando mais uma vez sobre a feminização do cuidado ligado ao mito do amor materno. (Canavêz et al, 2021) A corroborar, em um artigo recente, Fauville (2021) notou-se que as mulheres têm mais fadiga zoom quando comparado aos homens. Isso foi evidenciado, uma vez que apesar de homens e mulheres possuírem um mesmo número de videoconferências em um mesmo dia, as mulheres tendem a ter uma maior duração dessas reuniões.…”

Efeitos Da Pandemia De Covid-19 Nos Modos De Vida E Trabalho De Mulheres Brasileiras

“…Neste mosaico, recentes pesquisas apontam outros efeitos em diferentes dimensões da vida das mulheres, particularmente no que tange às condições de trabalho. Esses impactos são observados nas consequências do isolamento social para o trabalho doméstico (Zarpelon, Marques e Kloczko, 2021), nos níveis de sobrecarga e sobreposição de jornadas de trabalho feminino durante a pandemia (Vieira, Anido & Calife, 2022;Canavêz, Farias & Luczinski, 2021), nos desafios para as mulheres na prática do home office e/ou teletrabalho (Lemos, Barbosa & Monzato, 2020) e nos índices de violência doméstica contra mulheres que, durante o período pandêmico, tiveram preocupante ascensão (Vasconcelos, Viana & Farias, 2022;Vieira, Garcia & Maciel, 2020). Como efeito deste cenário, a saúde mental de mulheres também foi mais severamente impactada na pandemia quando em comparação aos homens: nota-se que a população feminina apresentou maiores índices de sofrimento psíquico e prevalência de transtornos mentais comuns, como estresse, ansiedade e depressão (OPAS, 2022;Almeida, 2020;Souza, Souza & Praciano, 2020).…”

Social Representations of COVID-19 Among Brazilian Elderly Women: A Structural Approach

“…In the pandemic scenario, women are more susceptible to the risk of contamination and to the social vulnerabilities that stem from that reality, such as unemployment, violence, lack of access to health services and increase of poverty (Canavêz et al, 2021). Santana et al (2022) highlights that the main elements that contributed to the increased vulnerability of women to violence in the context of the pandemic were ethnicity (mainly black women), partial closure of complaint services, low schooling, economic dependence, among others.…”