Saúde coletiva, colonialidade e subalternidades - uma (não) agenda?

Abstract

RESUMO Neste ensaio, partimos da constatação que as instituições que compõem o campo da saúde coletiva encontram-se tensas pela entrada de ‘outros’ corpos nos seus cenários. Corpos ‘outros’ que questionam a organização institucional e a matriz que orienta o pensamento nesse campo de conhecimento. Em seguida, apresentamos as bases que sustentam essas instituições: a colonialidade, como uma matriz predatória que persiste e se reatualiza na contemporaneidade; e a modernidade, como um programa de pensamento que separa, determina e institui uma hierarquia civilizacional. Tais bases expressam-se no racismo e sexismo que estruturam o Estado nacional brasileiro e atravessam a ciência que fazemos e a saúde pública, com cujas práticas nos articulamos. Ponderamos que a saúde coletiva não escapa desse caráter estrutural brasileiro; para isso, discutiremos alguns problemas fundamentais do campo, que este tem demonstrado dificuldade de ver/reconhecer. Por fim, propomos às instituições que produzem a saúde coletiva cinco apostas que devem ser feitas para reconhecer e acolher esses corpos ‘outros’ que agora chegam ao ensino superior e têm urgência de contrapor discursos e práticas que historicamente os subalternizam e invisibilizam.

Arco de Maguerez como ferramenta de pesquisa sobre a Saúde da População Negra

“…A perpetuação da colonialidade vem estruturando a sociedade e influencia a elaboração ou a ausência de políticas nos países afetados diretamente pelos desdobramentos da expansão colonial iniciada no séc. XVI, cujas identidades "destoantes", que habitavam esses territórios, sofreram sistemática subjugação e apagamento (GONÇALVES et al, 2020).…”

“…(2) Raça: Podemos entender raça como categoria política (GONÇALVES et al, 2020), que se difunde nos mais variados moldes de relações entre metrópoles e colônias, produzindo a categorização de humanidades. Esse processo orienta a sociabilização, as subjetividades, as políticas, relações institucionais e as maneiras de existir no mundo (COELHO; COELHO, 2019;BAGGIO et al, 2019).…”

“…Esse processo orienta a sociabilização, as subjetividades, as políticas, relações institucionais e as maneiras de existir no mundo (COELHO; COELHO, 2019;BAGGIO et al, 2019). Portanto, a construção social de "raças" é proveniente do racismo, indicando o último como ferramenta matriz da dominação colonial, cujo processo de racialização de pessoas se justifica pela ideia de "alteridade", de um "outro", um ser "não-branco" inferior e que, naturalmente, precisa ser dominado e desumanizado (GONÇALVES et al, 2020). E assim, refletese sobre os processos de saúde-adoecimento, sobre vulnerabilidades e determinações sociais, com repercussões sobre o estado de saúde individual e coletivo.…”