América Latina: progressismo, retrocesso e resistência

Abstract

RESUMO O artigo examinou a crise dos chamados 'governos progressistas' latino-americanos como parte de um processo político regional em que as elites dominantes locais se aliam aos Estados Unidos em uma ofensiva política para bloquear o acesso de forças de esquerda ao Poder Executivo em toda a região. Argumenta-se que governos tão díspares quanto os de Lula no Brasil, de Chávez na Venezuela, de Morales na Bolívia e do casal Kirchner na Argentina, entre outros, possuem fortes traços em comum, entre os quais: o fortalecimento do papel do Estado na economia, a ênfase nas políticas sociais e a busca de maior autonomia externa. Esses projetos se mantiveram por sucessivos mandatos presidenciais e proporcionaram avanços sociais significativos, mas terminaram por entrar em crise, em um processo atribuído, em parte, tanto às limitações inerentes a essa opção política quanto às pressões do imperialismo estadunidense e seus aliados. Ao final, descarta-se a noção de 'fim de ciclo' e aponta-se a dificuldade de consolidação de projetos liberais-conservadores como alternativa às experiências progressistas na região.

Desigualdade de renda na América do Sul e o papel da liberalização comercial entre 1990 e 2017

“…O crescimento desses países possibilitou a execução de políticas sociais com foco na diminuição da desigualdade que somado à valorização da taxa de câmbio pode provocar o aumento dos salários reais e queda do desemprego (Santos, 2015). Não por acaso, as gestões progressistas que chegaram ao poder nessa década compartilham a ideia de um Estado desenvolvimentista, ou seja, com forte presença estatal na economia, de forma a promover e orientar o desenvolvimento econômico e social (Fuser, 2018).…”

Agenda política da terra no governo Bolsonaro

“…Esses governos se mantiveram por sucessivos mandatos presidenciais, possibilitando a criação e implementação de políticas resultando em avanços sociais. No Brasil, esse ciclo progressista foi interrompido por uma crise política e econômica, causada tanto pelas pressões do imperialismo estadunidense e seus aliados para destruir a esquerda latinoamericana, quanto pelas limitações inerentes ao neodesenvolvimentismo (FUSER, 2018). A crise brasileira, ainda sem solução, desaguou em um golpe midiático-parlamentar em 2016, e na vitória de narrativas "antipolítica" de Bolsonaro em 2018 (BOITO, 2020).…”

As mudanças no status jurídico do aborto durante a onda progressista no Cone Sul: uma análise comparada

“…O entendimento adotado sobre o termo progressista diz respeito a posicionamentos favoráveis à transformação social no âmbito da economia -ampliação da igualdade e de direitos e usufruto das riquezas naturais a partir de critérios de soberania nacional -em contraposição a posicionamentos que estariam atrelados ao elitismo, à desigualdade social e à ingerência internacional em decisões estratégicas (FUSER, 2018). A partir dessa interpretação, as pautas mais relacionadas às liberdades no campo dos costumes, como a vivência da sexualidade e a liberdade das mulheres e dos setores LGBTIQ+, por exemplo, não estariam intrinsecamente conectadas ao progressismo político.…”