Cosmopolitismo E Performatividade: Categorias Para Uma Análise Das Competências Na Base Nacional Comum Curricular

Abstract

RESUMO: O artigo discute as categorias de conformação das subjetividades adaptadas ao cenário social de crise do capital, especificamente as categorias cosmopolitismo e performatividade, e como a categoria de competências, enfatizada na Base Nacional Comum Curricular, se relaciona com elas. As reformas educativas neoliberais possuem o papel de produzir conformismo por meio da formação unilateral para o trabalho e para uma cidadania adequada às características deste tempo: precariedade do trabalho e aumento do desemprego, competitividade, repressão do Estado e o aniquilamento das resistências da classe trabalhadora e, como pano de fundo ideológico, o processo de deslocamento das responsabilidades para o âmbito individual. As competências são uma forma de adaptação do projeto educacional a este tipo de sociabilidade, que esvazia as qualificações profissionais para percursos laborais individuais, inseguros, sujeitos a constantes avaliações. Assim, o cosmopolita, como empreendedor de si mesmo, é o projeto de formação humana adequada ao espírito performático neoliberal.

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores: tecendo relações

“…A partir da leitura, identifica-se o direcionamento de uma formação pragmática e padronizada, pautada na pedagogia das competências. Cabe ressaltar que a ideia de competência materializada nas políticas curriculares do país, desde a década de 90, descende do viés regulatório, neoliberal e tecnicista (Macedo, 2019) e que exprime no currículo um viés performático, cosmopolita e mercadológico (Melo;Marochi, 2019).…”

A Política de Ampliação do Ensino Médio de Tempo Integral

“…Enquanto resultado desse processo, percebe-se um movimento de apropriação do termo Educação Integral, cujos princípios fundamentais são, em grande parte, ignorados e o objetivo é a formação não de sujeitos emancipados, mas sim condicionados a uma educação cosmopolita Marochi, 2019;Popkewitz;Olsson;Petersson, 2009) que, presente nas reformas neoliberais, tem [...] o papel de produzir conformismo por meio da formação unilateral para o trabalho e para uma cidadania adequada às características deste tempo: precariedade do trabalho e aumento do desemprego, competitividade, repressão do Estado e o aniquilamento das resistências da classe trabalhadora e, como pano de fundo ideológico, o processo de deslocamento das responsabilidades para o âmbito individual Marochi, 2019, p. 1).…”

Da criatividade sequestrada à criatividade socialmente referenciada:

“…Em contraparte, apresentamos a perspectiva de uma criatividade socialmente orientada, como adotado pela educação dentro do movimento zapatista. Propõe-se estudar o que, em outro texto (MELO; YELICIH, 2016), denominamos de "sequestro da criatividade", que, embora não se reduza a uma ação ou um efeito da escola, nesta instituição acaba por interferir nos horizontes formativos das novas gerações, reduzindo a formação escolar a objetivos pragmáticos de cunho individualista, como a resolução de problemas, criticado por Popkewitz (2009), ou pela exaltação dos "talentos", e formando o perfil do que, também em outro texto e contexto, o da Base Nacional Comum Curricular -BNCC, denominamos como a formação do sujeito cosmopolita e performático (MELO, 2016;MELO;MAROCHI, 2019).…”