Este artigo problematiza historicamente a biografia de uma grande personalidade do Espiritismo no Brasil, intitulada “Vianna de Carvalho. O tribuno de Icó” (1999), de Luciano Klein Filho, tendo em vista que a sua publicação e o enredo da obra fazem parte de um projeto mais amplo de construção memorial com vistas à legitimação do grupo ao qual se vincula o autor e dirigente da Federação Espírita do Estado do Ceará-FEEC (1990). Explorando a temática das disputas religiosas no meio espírita a partir da história do tempo presente, relaciona-se a obra de Klein Filho como demarcadora de uma historicidade das origens do movimento espírita local nos quadros da disputa pela afirmação de sua identidade frente ao grupo federativo concorrente, organizado na União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará (1993). Na análise desponta a percepção de que Klein Filho, como voz autorizada a dialogar com o passado espírita local, entabulando relações com grandes médiuns e espíritas nacionais, desenvolve complexo jogo de legitimações que são capitalizadas pelo grupo da FEEC, no bojo de sua aliança com a Federação Espírita Brasileira. Conclui-se que, ao longo das três últimas décadas, os empreendimentos memorialísticos biográficos garantiram maior legitimação histórica ao grupo febiano no Ceará, ao mesmo tempo em que impulsionaram uma tomada de ação do grupo opositor no sentido de investimento memorialístico a partir de outros marcos históricos.