Em diferentes zonas de contato nas sociedades escravistas da América e do Caribe, histórias sobre relações entre mulheres negras escravizadas e homens de origem europeia, geralmente seus senhores, foram mencionadas em relatos de viajantes e de missionários, na literatura e em documentos oficiais desde o século XVII, em geral escritos por homens brancos. As imagens construídas sobre as mulheres são frequentemente estereotipadas e suas experiências e atuações invisibilizadas por essas narrativas, o que fomentou a construção de uma imagem racializada e depreciativa sobre as mulheres negras do Caribe Francês, sobretudo a partir do discurso frequente que vinculou alforria e mestiçagem. Neste artigo, visando demonstrar as limitações e os estereótipos presentes nas fontes escritas por homens brancos, exponho resultados de minha pesquisa sobre a conquista da alforria na Martinica, em uma abordagem de história social, procurando demonstrar alguns indícios de experiências de mulheres negras escravizadas nas Antilhas Francesas e suas lutas por sua liberdade e de suas famílias. Desse modo, busco evidenciar a fragilidade do argumento o qual afirma que a mulher negra escravizada teve acesso a sua alforria e de seus filhos predominantemente por meio de suas relações afetivas (e desiguais) com os homens brancos.