Este trabalho pretende analisar o obituário como gênero textual específico, dentro do universo maior do espaço biográfico contemporâneo, comparando-o com gêneros com funções e formas com alguma similaridade ao longo da história e esmiuçando suas especificidades textuais no presente, para tentar compreender as razões de sua ascensão no século 20. Narrativa biográfica mortuária que têm migrado, nos últimos trinta anos, de jornais e revistas para volumes em coletânea, os obituários são repletos dos valores biográficos caros à contemporaneidade, encerrados por um regime de verdade (o da imprensa) e pelo pathos específico dos discursos relacionados à morte recente. Seu estudo permite esboçar uma história cultural de um gênero que reflete anseios atuais.
Analisa-se a relação entre processos judiciais e romances autoficcionais: como a justiça se coloca como tema e como parte integrante da produção e recepção dessas obras. Decisões judiciais vão de encontro ao postulado ensejado por autores como Christine Angot e Ricardo Lísias: o direito inalienável da literatura em pilhar a realidade sem mascarar tal processo. Lísias vai mesmo além: não só faz da Justiça tema como como parte do efeito desta sobre a obra para transformá-lo em romance, tornando indissociável a vida que vira ficção da ficção que age na vida.
Resumo Esse artigo investiga o papel do nome real de terceiros no jogo literário que enseja a autoficção de Christine Angot, ao cotejar seus romances com correspondências, notas e manuscritos a eles ligados, depostos no Fonds Christine Angot, no IMEC, França. A partir da análise da evolução dos nomes nos textos e do que dizem a autora e a narradora, dentro e fora do romance, sobre tal uso, pensa-se uma ontologia do nome real no literário - em comparação, por exemplo, com Zola e a defesa do naturalismo. Questiona-se ainda, no nível da recepção, o efeito que tem o nome real identificável e sua defesa para a leitura do romance.
ResumoEste artigo oferece um panorama do fenômeno cultural de publicação e leitura de obituários em jornais de língua inglesa e nas coletâneas deles oriundas. A partir daí, relaciona o surgimento desse gênero especíico e sua manutenção hegemônica nos jornais ingleses e americanos com o caráter biográico, instantâneo e literário de sua narrativa. Para compreender o interesse extemporâneo por um gênero que migra da efemeridade do jornal para as coletâneas, analisa-se sua conformação romanesca, decantada a partir de outros gêneros e formada pela conluência entre temas de vida e morte marcada pelo suplemento de verdade do discurso da imprensa. Tal gênero apelaria esteticamente ao leitor por poder ser fruído, ao mesmo tempo, como relato de verdade eticamente rico e como uma espécie acessível e iterativa de literatura. Palavras-chave: Obituário; Coletânea; Estudos Culturais; Imprensa; Literatura OBITUARIES, PAST AND PRESENT: FROM THE FAST FOOD BIOGRAPHICAL NARRATIVE TO A "NEWSPAPER LITERATURE"Abstract his article ofers a panorama of the cultural phenomena of obituary publishing and reading, both on newspapers in English, their original locus, and anthologies. It relates the appearance of this speciic genre and its hegemonic lasting in contemporary American and British newspapers to the biographical, instantaneous and literary aspects of its narrative. he reasons for the extemporaneous interest of the reader in a genre that oten migrates from the ephemerality of newspapers to long-lasting print anthologies is searched for in its romanesque coniguration, itself originated from other genres and formed by discourses of life and death, ultimately legitimized by the truth discourse of the Press. Hence, the obituary would be consumed, esthetically, both as an ethically profound true story and as easy literature. Esta obra tem licença Creative CommonsNo capítulo "Quant au livre", de Divagations, Mallarmé (2003) opunha o caráter de produção e leitura do texto publicado no jornal aos do livro: o último, transcendental, superior, seria o espaço natural da literatura, enquanto o primeiro seguiria restrito às politicagens do cotidiano. No volume, dizia, haveria interioridade, algo de sagrado, enquanto na efemeridade do periódico, apenas supericialidade e exposição pública. Claro, uma aproximação histórica ajuda a entender a radicalidade da distinção: a Europa vivia então um boom da literatura dita comercial, assim como o lorescer da imprensa, sobretudo com os folhetins. Era desses últimos, aliás, que emergia a luidez dessa literatura acessível à avidez das massas. Ao ganhar espaço, a imprensa ameaçava a supremacia das belas letras na formação da opinião pública.Mais que um causo dos anais da literatura, porém, tal história ilustra o debate que segue. Pois parece ser mais que coincidência o fato de, justamente no perío-do em que Mallarmé vociferava contra a imprensa, na segunda metade do século XIX, os obituários terem
O artigo a seguir propõe uma comparação crítico-teórica entre The Life and Opinions of Tristam Shandy, Gentleman, de Laurence Sterne e Divórcio, de Ricardo Lísias. Busca-se aproximar o romance do século 18 em primeira pessoa, visto por muitos críticos como sátira genérica com elementos autobiográficos, do romance autoficcional contemporâneo, que repete e exacerba tais elementos e mecanismos ao infinito, a partir da análise do pacto de leitura e da suspensão estatutária entre discursos real e ficcional.
RESUMO:Propõe-se pensar a autoficção a partir da recepção de Histoire de la violence, romance em que o escritor Edouard Louis relata um estupro sofrido por ele. Após a publicação, o autor foi processado por atentado à vida privada pelo próprio estuprador. Ao expor seu trauma de forma literária, mas mantendo-se fiel à história (incluindo os nomes reais), Louis não só causou a fúria de uma pessoa real, algo típico da autoficção na França, como trouxe à tona a violência silenciosa sofrida por homossexuais, inclusive quando decidem denunciá-la. E o fez em um livro carregado de análise sociológica, como já fizera em En finir avec Eddy Bellegueulle. Ambos nada lembram certa queer literature de cunho "maldito", de Genet a Dustan. Em Louis, a provocação não está no estilo, mas na suposta veracidade do relato. A partir da recepção, sobretudo na imprensa, tenta-se delinear a maneira como a violência contra o homossexual (estética e eticamente) é recebida quando denunciada sob a égide da autoficção. PALAVRAS-CHAVE:autoficção, homossexualidade, recepção, justiça, ética "Il s'avéra qu'en écrivant, je cherchais la souffrance la plus aiguë possible, à la limite de l'insupportable, vraisemblablement parce que la souffrance est la vérité, quant à savoir ce qu'est la vérité, écrivis-je, la réponse est simple : la vérité est ce qui me consume, ecrivis-je"1.* Doutorando em Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês da Universidade de São Paulo (Usp). 1 Imre Kertész, Kaddish pour l'enfant qui ne naitra pas, citado em epílogo de Histoire de la violence (grifo meus).
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.