Os Índios e a Alfabetização Como consequência desse percurso, minha atenção permaneceu voltada para o trabalho de alfabetização e educação indígenas e, como não poderia deixar de ser, as suas relações mais ou menos imediatas com a língua, a história e a cultura dos Guarani. Nesse caso, a etnolinguística tornou-se o novo alvo, de maneira a permitir desvendar a questão de "como alfabetizar numa língua não uniformizada"? Se a imposição de variantes de uns a outros é impossível, se não há uma forma linguística de prestígio predominando, se os nomes oscilam em seus significados, as palavras em seu comprimento e se a ordem das palavras na frase é obrigatória para mim e não para eles, havia de se encontrar um denominador comum para todos, que não passasse pela normatização externa, asséptica da língua, pois, mais que língua, ela é parte integrante de cada indivíduo guarani, adquirida desde o nascimento a partir dos processos religiosos que lhes são pertinentes. Assim a língua guarani não se permitia normatizar senão por seus próprios meios, como uma forma endógena de transformação, visando à nova realidade que se processava à sua volta. Tomando mais a fundo essas reflexões, decidi-me por compreender as relações língua-"nação"-identidade, de maneira geral, como fenômeno humano, para verificar como ela ocorre com os Guarani, de maneira particular, mas teórica, e, com os Guarani da T.I. do Ribeirão Silveira, de maneira prática. Assim, abandonando o projeto anterior, mas, sem dúvida, mantendo-me devedor a ele, optei pela investigação etnolinguística, no terreno da interdisciplinaridade, buscando subsídios ora na historiografia, ora na antropologia, ora na educação e ora na linguística, mas com o fito sempre imóvel em alguma maneira de promover sua unidade com um grupo historicamente diferenciado e autônomo em relação a nós. Meu trabalho de pesquisa de campo de descrição linguística terminou por provocar um envolvimento extraprofis