Resumo Em 1830, Maria da Conceição, moradora da Vila de Nossa Senhora da Ajuda de Jaguaripe, recôncavo sul da Bahia, foi vítima da prática ilícita de “reduzir pessoa livre à escravidão”. No longo período de 1830 a 1876, permaneceu ilegalmente como escrava. No Brasil, a legislação em vigor poderia ajudar a referida “escrava” na tentativa de obter a sua liberdade de volta, mas o caminho empreendido por ela até a Justiça, na qual teve que provar sua condição de mulher livre, levou longos e penosos 46 anos. Essa história será contada a partir do processo civil de ação de liberdade movido por ela em 1876. Os dados localizados em tal processo e o cruzamento de outras fontes foram o fio condutor para entender as tramas vividas por essa mulher que, na contramão de uma sociedade escravista marcada pela hierarquia de gênero, conseguiu alcançar seus objetivos, revelando, assim, que em diversas situações, o resultado das relações de poder nem sempre foi negativo para as mulheres. Sua história de vida possibilitou, ainda, trazer à tona muitas outras histórias de sujeitos que compuseram o universo vivido por essa personagem.
Neste estudo, busquei trazer histórias de vida de mulheres pobres livres, forras e escravas que viveram na fronteira entre a escravidão e a liberdade, no recôncavo sul da Bahia, nos anos de 1850-1888. Conhecido como "recôncavo mandioqueiro", essa parte da província da Bahia teve, durante todo o século XIX, grande inserção econômica por se tratar de um importante polo de produção de gêneros de primeira necessidade que abastecia os mercados da capital. Sendo assim, atraía todo tipo de gente em busca de meios de sobrevivência, incluindo mulheres pobres livres, escravas ou recém saídas do cativeiro. Muitas delas, conseguiram com trabalho e astúcia sair do cativeiro e construir um patrimônio significativo; outras, com pouca sorte, penaram até a morte angariando meios de sobrevivência. Partindo de um conjunto amplo de fontes documentais de natureza diversa, tais como: testamentos, inventários post mortem, registros eclesiásticos e notariais, processos cíveis e criminais, posturas municipais e jornais, cruzados com dados coletados no Censo de 1872, tracei os caminhos percorridos por essas mulheres na construção de suas autonomias. A análise destes dados possibilitou uma maior aproximação das relações quotidianas vivenciadas por essas mulheres no contexto da escravidão e no imediato pós-abolição que, bem longe de ser pacífico e brando, mostrou-se ser marcado por toda sorte de violência.
Este artigo analisa a ação repressiva das autoridades coloniais e provinciais sobre os escravos e libertos da Bahia, que viviam nas franjas do condado de Nazaré das Farinhas, na primeira metade do século XIX. Também são analisadas as diferentes estratégias levadas a cabo por homens livres para burlar o recrutamento militar, especialmente a formação de quilombos e a construção de territórios negros. O estudo enfatiza o movimento de escravos fugitivos que estavam tentando sobreviver nas cidades e nos distritos da região, as revoltas que protagonizaram e sua relação com a comunidade de homens livres suspeitos. Além do uso de uma bibliografia atualizada, a pesquisa se baseou em documentos expedidos pelos Juízes de Paz, os censos do governo da Capitania, relatos de viajantes, correspondências da Presidência da Província e municipais, ordenanças, acordos e regulamentos do período colonial, processos criminais, assentamentos em livro batismal e documentos emitidos pela polícia da época.
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