A partir de uma pesquisa sobre as circulações de pesquisadores indianos em ciências sociais na Europa, analiso as articulações entre neoliberalismo e precariedade acadêmica na universidade britânica a partir de um ponto de vista pós-colonial. Para tanto, o artigo está estruturado do seguinte modo: (i) introduzo e situo sociológica e historicamente o objeto deste estudo; (ii) realizo uma discussão conceitual que coloca em perspectiva quatro questões-chave deste estudo: neoliberalismo, precariedade, mobilidade e pós-colonialidade; (iii) por fim, demonstro etnograficamente como diásporas e o discurso da diversidade têm um papel fundamental na compreensão de movimentos contemporâneos de neoliberalização da universidade. De modo geral, argumento que uma história colonial e pós-colonial, mais recentemente atualizada em discurso decolonial, é apropriada pelo sistema universitário europeu na produção de uma economia global do conhecimento eminentemente neoliberal.
This paper addresses current notions of belonging amongst Indian scholars in social sciences building an academic career in the United Kingdom. Drawing on concluded PhD research in social anthropology, it articulates a multi-sited ethnography of centres of research and in-depth interviews. This research project acknowledges the fact that while the literature on circulations of scholars is vast and continues to grow, ethnographic studies on this matter are still rare. For this reason, this paper focuses on an ethnographic comprehension, based on everyday conversations and evocative situations, of these lives that are built in a context of mobility. Here, I address notions of diaspora, global citizenship and cosmopolitanism as relevant hermeneutic tools for the comprehension of transnational sentiments of belonging amongst these scholars. At stake are intersectional elements that include class, gender, origin and caste, in the construction of transnational academic circulations.
É autora de publicações importantes (1991) sobre a construção das categorias "sexo" e "gênero" no âmbito das ciências sociais, que tiveram grande projeção ao denunciar o caráter androcêntrico do uso desse termo nos principais trabalhos etnográficos do século XX. Sua crítica, entretanto, ultrapassa o plano epistemológico. Na década de 1980, momento em que o feminismo lutava por reconhecimento no meio acadêmico na França, Mathieu escrevia que a etnologia de então tratava os homens estudados como seres eminentemente sociais, enquanto relegava às mulheres o lugar da natureza. De modo pertinente, a antropóloga sublinhava o lugar marginalizado concedido às mulheres nas etnografias de então, que raramente apareciam como informantes dxs etnólogxs em trabalhos de campo. Estranhando a ausência da perspectiva das mulheres sobre suas próprias vidas, Mathieu se perguntava se existiria alguma sociedade, ao menos conhecida, na qual as mulheres não falavam. Assim, ela formulava sua crítica epistemológica fundamental: a prática antropológica da época refletia uma "estrutura de pensamento própria à sociedade que a produzia". 1 Seu texto clássico sobre a noção de "dominação", publicado em 1985 sob o título "Quand céder n'est pas consentir" ("Quando ceder não é consentir") e republicado em sua coletânea mais importante (1991), marcou gerações de pesquisadoras e pesquisadores. Se a noção de dominação poderia parecer ultrapassada para a crítica antropológica contemporânea, a reflexão de Mathieu ia direto ao ponto em questões candentes de sua época. Em meio ao debate que imbricava pós-colonialidade, Direitos Humanos e relativismo cultural, Mathieu se posiciona politicamente em defesa dos direitos de mulheres de todas as culturas à autonomia sobre seus corpos e consciências. Ao transitar entre as complexidades da categoria "dominação", a autora nos lembra que a noção do consentimento nas relações sexuais comporta uma ambiguidade perversa: "não ceder é uma norma e, ao mesmo tempo, ceder é uma norma".2 Não à toa, no caso da violência sexual, a vergonha repousaria invariavelmente sobre a vítima.Um discurso "bem formulado" pode ser tão somente o vão refinamento de um discurso vazio, mas assentado sobre a plenitude do poder; uma questão "mal formulada" desvelar um questionamento... vertiginoso face ao vazio epistemológico.
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