<p>O Brasil é um país reconhecidamente religioso e espiritualizado, embora os censos do IBGE de 1990, 2000 e 2010 tenham apontado aumento progressivo do número daqueles que se consideram sem religião. Em comparação com outros países, também o Brasil aparece como um país de predominância religiosa. Esses números revelam que a religião é um tema de interesse para o brasileiro, que atravessa a cultura e se faz presente no cotidiano influenciando suas crenças, comportamento e visão de mundo. A partir dessas constatações, pode-se inferir que a demanda para trabalhar as intersecções da R/E nos atendimentos de saúde pode ser maior do que o esperado e maior do que os profissionais de saúde estejam preparados para lidar. Pode-se indagar se esses profissionais têm algum aprendizado formal dentro das suas formações sobre o tema da R/E e o quanto estão receptivos para lidar com religiosidades/espiritualidades diferentes da sua e talvez desconhecidas, tendo em vista a diversidade religiosa no Brasil e até a multirreligiosidade (quando a pessoa frequenta mais de uma religião simultaneamente). O objetivo deste trabalho é problematizar o tema da Religiosidade e da Espiritualidade (R/E) na área da saúde, especialmente no contexto hospitalar brasileiro.</p>
<div class="page" title="Page 1"><div class="layoutArea"><div class="column"><p>A despeito da integralidade do cuidado em saúde, a dimensão da religiosidade/espiritualidade (R/E) pouco aparece na arena do debate, permanecendo à margem da reflexão acadêmica e da prática do serviço. O objetivo desse estudo quantitativo foi verificar o modo como a dimensão da R/E é vista e encaminhada na prática dos profissionais da área da saúde. A pesquisa foi realizada com 174profissionais/trabalhadores da saúde de variadas instituições públicas do Rio Grande do Sul. Os participantes responderam a um questionário com 35 questões em que constavam dados sociodemográficos e questões fechadas sobre a prática da R/E desses profissionais. O público foi de 143 mulheres e 31 homens, com idades entre 19 e 63 anos (média de 41,02 e DP de 10,79), de diferentes profissões da saúde. Sobre a afiliação religiosa, as respostas mais frequentes foram: espírita (21%), católico não praticante (18,2%), sem religião mas acredita em Deus (14,2%), afro-brasileiras (11,9%) e católico praticante (10,8%). Os dados apontam para a necessidade de estes profissionais estarem mais bem capacitados para lidar com a demanda religiosa/espiritual dos pacientes, para ausência desse tema na sua formação técnico-profissional e para a falta de espaços e estruturas institucionais que acolham essas demandas do usuário do sistema de saúde.</p></div></div><div class="layoutArea"><div class="column"><p><span>P</span><span>ALAVRAS</span><span>-</span><span>CHAVE</span><span>: </span><span>Religiosidade/Espiritualidade. Profissionais/Trabalhadores da saúde. Formação profissional. </span></p><p><span>A</span><span>BSTRACT </span></p><p><span>Despite the integrality of health care, the dimension of religiosity /spirituality (R/ E) remains on the margins of academic reflection and service practice. The aim of this quantitative study was to investigate how the dimension of R/E is perceived and sent in the practice of health professionals. The survey was conducted with 174 health professionals from various public institutions of Rio Grande do Sul. The participants answered a survey with 35 questions that included socio-demographic data and closed questions about the practice of R/E of these </span>professionals. The sampling was 143 women and 31 men, between the ages of 19 and 63 years (mean 41.02, SD10.79), of different health occupations. Regarding religious affiliation, the most frequent responses were: Spiritualist (21%), Lapsed Catholic (18.2%), no religion but believes in God (14.2%), Afro-Brazilian (11.9%) and Practicing Catholic (10.8%). The data point to the need for these professionals to be better able to deal with the R/E needs of patients, because of the lack of the presentation of this issue in technical and professional training and the lack of space and institutional structures which accommodate user demands for this aspect of the health system.</p><div class="page" title="Page 2"><div class="layoutArea"><div class="column"><p><span>K</span><span>EYWORDS</span><span>: </span><span>Religiosity/Spirituality. Health professionals. Professional education. </span></p></div></div></div></div></div></div>
Sendo o Brasil um país de uma enorme diversidade religiosa, pode-se inferir que a demanda para trabalhar as intersecções da religiosidade e espiritualidade (R/E) nos atendimentos de saúde pode ser maior do que o esperado e maior do que os profissionais de saúde estejam preparados para lidar. Este trabalho buscou investigar se os profissionais de saúde de um hospital-escola de Porto Alegre têm algum aprendizado formal dentro das suas formações sobre o tema da R/E e o quanto estão receptivos para lidar com religiosidades/espiritualidades diferentes da sua e talvez desconhecidas. Foi feita uma entrevista semiestruturada com 14 profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais) com o objetivo de conhecer as percepções deles no que se refere a como abordam a questão da R/E no contexto hospitalar. Após análise de conteúdo, os resultados foram divididos em três eixos temáticos: boas e más práticas de assistência espiritual no contexto hospitalar, R/E na saúde e formação. Cada um desses eixos foi subdividido e agrupado em outras categorias. Foi possível observar que o tema da R/E aparece cotidianamente no contexto hospitalar, ora promovendo reflexões e incentivando uma maior integralidade no cuidado com o paciente, ora sendo invisível ou de difícil abordagem. As conclusões apontam para a necessidade de maior inserção do tema da R/E na graduação e maior oferta de educação continuada nesses temas no sentido de gerar uma formação mais adequada para que os profissionais de saúde no contexto hospitalar possam instrumentalizar-se com essa temática.
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