Resumo Quantos são e a quais partidos estão filiados os nomeados para os cargos do alto e médio escalão da burocracia federal brasileira? Há diferenças entre mandatos presidenciais? Para responder essas perguntas, construímos uma base de dados inédita referente aos filiados a partidos políticos em cargos de direção e assessoramento superior (DAS). Nossa análise descritiva aponta que a proporção de filiados aumentou nos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) e é maior entre nomeados sem vínculo com o setor público. A concentração de poder entre os partidos - principalmente entre o partido presidencial e os demais - variou de modo significativo entre presidentes. O controle partidário sobre os nomeados filiados é mais brando nos cargos de nível intermediário e maior nos níveis superiores. Entretanto, os filiados são minoria, mesmo nos cargos de mais alto poder político-administrativo. Por isso, sugerimos que, possivelmente, as redes de conexão política que definem os quadros da burocracia decisória também se constroem por meios extrapartidários e compreendê-las se mostra decisivo para dimensionar o peso da política partidária na burocracia ministerial e reinterpretar como o Poder Executivo constrói e gerencia a coalizão de governo e seu apoio no Poder Legislativo.
Resumo Quantos são e a quais partidos estão filiados os nomeados para os cargos do alto e médio escalão da burocracia federal brasileira? Há diferenças entre mandatos presidenciais? Para responder essas perguntas, construímos uma base de dados inédita referente aos filiados a partidos políticos em cargos de direção e assessoramento superior (DAS). Nossa análise descritiva aponta que a proporção de filiados aumentou nos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) e é maior entre nomeados sem vínculo com o setor público. A concentração de poder entre os partidos - principalmente entre o partido presidencial e os demais - variou de modo significativo entre presidentes. O controle partidário sobre os nomeados filiados é mais brando nos cargos de nível intermediário e maior nos níveis superiores. Entretanto, os filiados são minoria, mesmo nos cargos de mais alto poder político-administrativo. Por isso, sugerimos que, possivelmente, as redes de conexão política que definem os quadros da burocracia decisória também se constroem por meios extrapartidários e compreendê-las se mostra decisivo para dimensionar o peso da política partidária na burocracia ministerial e reinterpretar como o Poder Executivo constrói e gerencia a coalizão de governo e seu apoio no Poder Legislativo.
Resumo Introdução: Este artigo analisa a suposta simplicidade das percepções e imagens que os eleitores usam para basear seus entendimentos e condutas acerca da política institucional, caracterizadas por Fábio Wanderley Reis como a “Síndrome do Flamengo”. Materiais e Métodos: A pesquisa está assentada em análises econométricas e psicométricas de dados coletados nas eleições presidenciais brasileiras – no Datafolha, ESEB e Lapop -, de 1989-2014. Para tanto, verificou-se a validade do arrazoado mediante o exame de uma possível associação entre os posicionamentos políticos e o voto, ao longo dos anos considerados. Resultados: É infundado o postulado que atribui aos brasileiros pouca complexidade nas escolhas eleitorais. A relevância das concepções programáticas, e não meramente materiais e simbólicas, dos cidadãos mostraram-se estatisticamente significativas em todos os anos explorados. Discussão: A convicção segundo a qual eleitores brasileiros padecem de uma enfermidade, a “Síndrome do Flamengo”, alicerçou uma literatura que permaneceu pouco atenta às convicções programáticas dos eleitores. Neste trabalho, demonstro que existe uma correlação clara entre os posicionamentos políticos dos eleitores e o voto, aspecto que contraria o postulado defendido por Reis.
This article offers an explanation for the intensity of redistributive policies from Latin American leftist governments during the so-called 'left turn'. It challenges the idea that the recent radical leftist governments are the product of region-speci ic characteristics. Based on theoretical models that analyze the implications of inequality in democracies and the moderating effects of different economic and institutional structures, it argues instead that the left's redistributive policies were more intense in countries where capital mobility is low and there was no pro-elite legislative veto player. To evaluate this explanation, we offer original evidence from time-series -cross-section regression models of social spending, based on data from thirteen Latin American countries over the years 2003 to 2015. The results show partial support for the explanation: there is strong evidence that social spending decreased with the ideological distance between the president and the proelite veto player, but only weak evidence that capital mobility attenuated this effect.
York"Os ensaios coletados neste volume examinam a relevância da abordagem agonística que elaborei em trabalhos anteriores para uma série de questões que pensei relevantes no âmbito de um projeto de esquerda" (2013, p. 1 -tradução minha). Com esses dizeres, Mouffe inicia a introdução de Agonistics: thinking the world politically, mostrando de antemão que seus postulados teóricos se entrelaçam com um desígnio de atuação, orientado para a subversão da ordem neoliberal. Além disso, a sentença anuncia um expediente de teste para seu arsenal teórico-conceitual em face de alguns dos acontecimentos contemporâneos. As relações internacionais, a crise da União Europeia, o mundo da arte e os levantes ocorridos nos últimos anos passam por seu crivo e desafiam pressupostos e axiomas desenvolvidos ao longo da carreira da autora. Antes de avançar para a empiria, no entanto, cabe aclimatar o leitor à teoria em voga.Hegemonia e antagonismo são os dois conceitos-chave utilizados por Mouffe. Ambos cimentam a perspectiva de uma negatividade radical presente na dimensão do político. Essa conceituação impede, consequentemente, a totalização e o exame de uma sociedade pautada por dispositivos que escapem ao jogo de poder e ao conflito. Para tanto, cumpre observar a natureza hegemônica da ordem social e o caráter contingente das convenções estruturantes em que os indivíduos se encontram envoltos.Assim sendo, as práticas hegemônicas configuram uma articulação responsável por instituir o ordenamento e os significados de um dado concerto social. Isso porque a conformação da estrutura societal não é uma disposição concebida como "natural", todavia, expressa as relações de poder presentes em um determinado momento. Por conseguinte, estão sujeitas a procedimentos contrahegemônicos, cujos objetivos residem nos esforços de desarticulação do alicerces então vigentes.A noção de antagonismo revela um aspecto inerente a todas as sociedades humanas; pressupõe as ideias de incompletude identitária e de impossibilidade das soluções racionais. Em outras palavras, presume uma luta ininterrupta pelo poder protagonizada por identidades que, em virtude de suas posições antagônicas, são incapazes de atingir a concordância em relação a questões centrais.Nessa parte, vale retomar as apreciações de Mouffe quanto às dimensões ontológica e ôntica. Essa distinção preenche de sentido a separação entre o político e a política. O primeiro, inspirado na oposição schmittiana entre "amigo" e inimigo", se refere ao plano ontológico, ou seja, àquilo que se apresenta na essência das atividades políticas. Caracteriza o supracitado antagonismo, que pode assumir múltiplos formatos, mas emerge em diversas relações sociais e não há de ser erradicado. Por conta dessa impossibilidade de reconciliação final, o domínio necessita de um isolamento dos
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