No natal de 1872, Cosima Wagner, filha de Franz Liszt e esposa de Richard Wagner, é presenteada com um conjunto de cinco ensaios que abordavam temas diversos, relativos a um projeto de renovação da cultura alemã em que ela se engajara. Seu autor era Friedrich Nietzsche, então um jovem professor na Universidade da Basiléia, em cujo livro, O nascimento da tragédia, Richard Wagner havia encontrado a promessa de uma filosofia afeita a sua música. Nietzsche escrevera o texto como resposta às questões que Cosima costumava formular por meio da freqüente correspondência então mantida entre ambos. O conjunto desses textos recebeu o curioso título de Cinco prefácios para cinco livros não escritos.O primeiro destes "prefácios", Sobre o pathos da verdade, encerra uma crítica às pretensões do conhecimento racional e, em grande parte, prenuncia o tom da crítica posterior de Nietzche: a procura da verdade é vista como uma busca fadada ao fracasso e, por isso, o sofrimento é inerente ao conhecer. A arte, nesse contexto, aparece como visão de mundo alternativa, opondo a celebração da vida à aniquilação do conhecimento. O pessimismo em relação à atividade investigativa ganha, aqui, uma formulação bastante próxima, pode-se mesmo dizer, preparatória,
Este texto busca mostrar que a crítica à linguagem empreendida por Nietzsche, já em seus primeiros escritos sobre o tema, não pode ser tomada em um sentido meramente epistemológico, uma vez que enfoca a discussão sobre o conhecimento a partir de uma perspectiva moral.
Impulso artístico e mentira: a presença de Schopenhauer em Sobre verdade e mentira no sentido extramoral T h e l m a L e s s a d a F o n s e c a Universidade Federal de São Carlos -UFSCar -São Paulo RESUMOA dualidade fenômeno/coisa em si não parece ser paradigma sustentável nesse ensaio de Nietzsche, apesar de sua então confessa filiação a Schopenhauer. A ideia de Kunsttrieb, herdada de Schelling, o situa em um cenário bem mais afeito à noção dionisíaca de criação, o que impõe certa distância em relação às inclinações ascéticas próprias da concepção schopenhaueriana de estética. A apresentação proposta tem em vista discutir as possíveis incongruências entre as apropriações de Schelling, Schiller e de Schopenhauer nesse escrito de Nietzsche. ABSTRACTThe duality phenomenon/thing in itself doesn`t seem a sustainable paradigm in that essay by Nietzsche, in spite of his confessed filiation to Schopenhauer. The idea of "Kunsttrieb", inherited from Schelling, indicates a scenario much closer to the Dionisiac notion of creation, which presumes some distance concerning the typical ascetic inclinations of Schopenhauer's conception of esthetics. The proposed presentation has the purpose to discuss the possible incongruences between the Schelling, Schiller and Schopenhauer appropriations in that composition by Nietzsche.A "Tentativa de autocrítica" escrita por Nietzsche em 1886 como prefácio para a nova edição de O nascimento da tragédia contém uma visão retrospectiva um tanto questionável, como se sabe, ao renegar de forma taxativa não apenas a influência de Schopenhauer como, sobretudo, a inserção da obra no contexto da tradição pós-crítica:Entende-se em que tarefa ousei tocar já com esse livro? ... Quanto lamento agora que não tivesse então a coragem (...) de permitir-me, em todos os sentidos, também uma linguagem própria (...) que eu tentasse exprimir penosamente, com fórmulas schopenhauerianas e kantianas, estranhas e novas valorações, que iam desde a base contra o espírito de Kant e Schopenhauer, assim como contra seu gosto! 1 Nietzsche quer aí renegar a tão repetidamente aclamada herança schopenhaueriana, outrora repetidamente enaltecida nos tempos da Basileia. Tudo
Resumo: Em Ueber Wahrheit undLuege in aussermoralischen Sinne, a discussão é travada em torno de duas noções, cada qual sinalizando uma atitude específica em relação à linguagem: impulso à verdade e impulso artístico. O artigo que se segue parte da distinção entre essas duas noções com o objetivo de especificar que noção de verdade está em jogo na crítica nietzschiana feita nesse texto. Palavras
Este número vem a público com o peso da falta. Bento Prado Júnior, membro do corpo editorial da doispontos e professor de grande parte dos autores que aqui escrevem, não poderá dar seu aval a esta edição, como fazia, sempre que nos tranquilizava ao dissipar nossas dúvidas sobre a qualidade de nosso trabalho. Noutras vezes, é claro, corrigia algumas das rotas sugerindo novos percursos e até objetivos sem jamais desdenhar de nossas intenções, por mais pueris que fossem. Será muito difícil escrever sem supor um leitor capaz de casar tanta exigência acadêmica com o mais alto grau de generosidade intelectual. Melhor é supô-lo, sempre.
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