S.M.B., sexo feminino, 33 anos, admitida na Santa Casa de Presidente Venceslau devido atropelamento por trator com trauma em região tóraco-abdominal. Da entrada sedada, sob ventilação mecânica e em uso de droga vasoativa. Quanto aos exames de entrada a hemoglobina era de 3,8 g/dL e o hematócrito de 11%. Na admissão no centro cirúrgico fora realizada drenagem torácica em selo d`água à esquerda, com saída imediata de 1400 ml de sangue. Prosseguiu com laparotomia exploradora, onde foi encontrado lesão esplênica grau V, lesão hepática grau IV e ruptura completa do esôfago proximal na transição esôfago-gástrica associado a lesão diafragmática. Realizado esplenectomia total, hepatorrafia com controle de sangramentos e gastrorrafia em região de cárdia, e isolamento do esôfago com sondanasogastrica (SNG) por inexperiência do cirurgião a paciente foi encaminhada para serviço de referência para reparo definitivo, no hospital especializado foi realizado reabordagem cirúrgica, no inventário da cavidade observou grande quantidade de sangue proveniente fígado e tórax, e secção completa do esôfago distal reparado por SNG, devido a instabilidade da paciente e gravidade das lesões, foi optado por cirurgia de controle de danos, realizado hepatorrafia do segmento VII, esofagostomia e peritoneostomia; Após a intervenção a paciente foi encaminhada para Unidade de Terapia Intensiva, evoluindo a óbito. A lesão esofágica causada por trauma não iatrogênico é incomum. Com mortalidade de 10 a 40% se não diagnosticada nas primeiras 24h, usualmente acomete o esôfago torácico e cervical. O tratamento cirúrgico é indicado em casos de pacientes instáveis, perfuração de esôfago intra-abdominal, perfurações com doenças esofágicas. As primeiras 24 horas são o período ouro para o fechamento das lesões, que devem ser desbridadas até a exposição total, o que normalmente requer abertura da muscular permitindo a avaliação total do dano da mucosa. A abordagem depende da área lesionada, como no caso relatado, que devido à gravidade da paciente, foi utilizado cirurgia abreviada, para controle de danos, com esofagostomia e peritoneostomia, para que posteriormente fosse realizado reparo definitivo. A gravidade dos traumas com lesão de esôfago e a demora no diagnóstico e tratamento resulta em alta taxa de complicações pós operatórias e elevação considerável da morbimortalidade dos pacientes, fazendo-se necessários maiores estudos para detecção precoce da doença.