RESUMÉPara falar da linguagem da criança, começo lembrando uma lenda relatada pelo filósofo americano, John Searle, em que fica bem explicitada a sua posição quanto às noções de sujeito e de representação. O pensamento de Searle, de cunho pragmatista, exerce, hoje, muita influência no campo da Filosofia, da Lingüística, da Psicologia, e em outras áreas do saber.Mas, vamos à lenda: no livro, A Intencionalidade, Searle faz a construção mítica de uma pequena tribo primitiva em que todos conheciam todos, em que os recém-nascidos eram batizados na presença da tribo inteira, e na qual os indivíduos aprendiam a significação dos nomes pela indicação direta ("Isso é..."); nessa tribo, a linguagem funcionava, então, de maneira absolutamente descritivista, sendo a referência, de cada nome, exclusivamente fixada pelos feixes de descrições aprendidos, um a um, pelo ensinamento de alguém que já seria detentor desse saber. (SEARLE, 1985) Está claro que Searle não acredita nessa possibilidade, mas defende que esse é o funcionamento primário da linguagem. E, esse sucesso das interações verbais é atribuído ao domínio exercido pelos sujeitos sobre os seus enunciados e à própria qualidade atribuída à linguagem de ser transparente. Nessa perspectiva, fundamentalmente, o significante estaria a serviço do significado, estaria aí para dizermos o que temos em mente, tal como temos a intenção de dizê-lo. Fica, portanto, excluído, qualquer intervalo entre o falar e o querer dizer, de modo que não há lugar para o erro, o deslize, a não ser como acidente no percurso para uma "tomada de consciência" cada vez mais efetiva desse querer dizer, assim como, de como dizer.Pensar assim implica considerar que contexto, situação, circunstâncias, interações, são imediatamente referenciais ou, em outras palavras, que a linguagem é transparente,