Este artigo problematiza o lugar das crianças nas pesquisas na área da Educação, mais especificamente, na Educação Infantil, a partir da visão da multiplicidade de crianças que vivem diversas infâncias e produzem culturas infantis nas condições dadas. Trata-se de um conjunto de reflexões que fazemos no nosso percurso investigativo e que nos instiga a descolonizarmos os modos de fazer pesquisa. Para isso, precisamos enfrentar as dicotomias, o adultocentrismo, a subordinação e o colonialismo que forjam a produção científica brasileira, colocando no centro do debate, além das relações de poder, a intersecção entre raça, etnia, religião, gênero, sexualidade, classe social e idade. Nossas proposições e inquietações são iniciadas com a discussão da criança como sujeito que pensa (epistêmico), que produz cultura, história e que participa e interfere política e economicamente na sociedade. Em seguida, apontamos algumas contribuições da Sociologia da Infância e da Pedagogia da Educação Infantil para essa “reviravolta científica”, de considerar a criança como sujeito de pesquisa. Finalizamos com várias questões e desafios que ainda devemos enfrentar para, de fato, colocarmos a criança como participante do processo investigativo, considerando suas criações e suas falas, como alguém que faz pesquisa.
Foi pensando nas muitas possibilidades de viver esses outros tempos em tempos de pandemia, que surgiram várias indagações: Se as crianças não estão nas instituições de educação infantil, onde estão? Com quem? O que estão fazendo? Como estão brincando? Como estão reinventando os modos de vida em tempos de isolamento social? A partir desses questionamentos o grupo de estudos e pesquisas em Pedagogias e Culturas Infantis (GEPPECI) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) iniciou uma sequência de lives no seu instagram, que culminou num webnário e se materializa na proposta deste dossiê. Na tentativa de conhecer um pouco como as diversas crianças estão vivendo as suas infâncias em tempos de pandemia, convidamos várias/os pesquisadoras/es de diferentes regiões do Brasil para contribuir com esse debate. Reunimos aqui 10 artigos que trazem um pouco a multiplicidade de experiências vivenciadas pelas infâncias brasileiras, portuguesa e italiana e que que ajudam a descolonizar a concepção universal e abstrata de criança. Gostaríamos que este dossiê contribuisse para descolonizar o olhar para as diversas crianças brasileiras que vivem suas experiências em diferentes cantos desse país, mas que sofrem também as crueldades desse sistema e dessa necropolítica (MBEMBE, 2018), reagindo, subvertendo, (re)criando outras possibilidades de existências e de educação.
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