A edição diplomática apresentada neste artigo é parte da dissertação da primeira autora e orientada pela segunda, intitulada “Estudo comparativo das abreviaturas em documentos politestemunhais do testamento do rei D. Pedro II, de Portugal.” Esse tipo de edição busca facilitar a leitura de documentos manuscritos de diacronias passadas, sem, contudo, alterar as características linguísticas genuínas do documento original. O documento se encontra nas Gavetas da Torre do Tombo e está disponível para consulta online. Ao longo dos doze fólios do manuscrito é possível compreender melhor como funcionava a composição da Corte no início dos setecentos, além de perceber aspectos da política, religião e sociedade da época. O testamento escrito no ano de 1704, pelo padre confessor Sebastião de Magalhães, sob comando do rei Dom Pedro II, tinha por objetivo garantir a sucessão ao trono para os descendentes do rei, uma vez que havia a possibilidade da sucessão não acontecer da forma como Dom Pedro II almejara.
Neste artigo temos duplo objetivo: discutir a importância de transcrição feita com critérios filológicos e mostrar como o respeito ao texto original possibilita ao pesquisador diacronista, e ao público em geral, conhecer o uso linguístico, manifesto no manuscrito sob análise, de um estágio pretérito da língua. Na segunda parte do texto, é feita uma apresentação não exaustiva de fenômenos linguísticos extraídos de parte de um manuscrito do século XVIII, intitulado Processo De Genere Vita et Moribus de Francisco de Paula Meireles (1779).
Este artigo apresenta, de forma parcial, dados paleográficos de um manuscrito setecentista localizado no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (MG), do qual são extraídos e analisados casos que podem indiciar mudança fonética. Muitos desses casos ainda são recorrentes e atuantes no português brasileiro. Os dados aqui apresentados podem, de alguma forma, contribuir para os estudos etimológicos, já que o corpus analisado, transcrito com critérios filológicos, possui datação e localização.
Este artigo utiliza como corpus o caderno de receita de Dona Plautina Nunes Horta, escrito em 1896, na cidade de Mariana (MG), o qual possui um conjunto de 130 receitas culinárias da cozinha mineira. Nosso objetivo é analisar, sob o viés histórico, o uso de uma terminologia lexical de pesos e medidas de diferentes sistemas aqui denominados de “antigo” e “novo”. Com o uso da ferramenta Concordanciador AntConc, fizemos o levantamento de 34 tipos diferentes de pesos e medidas dos ingredientes. Após fazer um estudo sobre a história da implantação dos sistemas de medição, tanto em Portugal quanto no Brasil (LOPES, 2005; ZUIN, 2007), procuramos explicar por que são utilizados diferentes itens lexicais terminológicos para indicar pesos e medidas no corpus sob análise. Como resultado, constatamos que a diversidade de terminologias lexicais retrata um habitus cultural (BOURDIEU, 1977; DURANTI, 2000) de permanecer com o antigo sistema e, ao mesmo tempo, aceitar o novo.
Não existe outra forma de pesquisar a língua pretérita que não seja por meio da escrita, sejam os textos literários ou não-literários. Mas qual o grau de representatividade da oralidade em documentos pretéritos? Esta é a questão que, de forma geral, conduziu a pesquisa realizada e cujos resultados serão apresentados neste artigo. Nosso objetivo é discutir (e mostrar) de que forma combinações lexicais restritas, extraídas de 14 processos-crime, escritos em Vila Rica e em Vila Real de Sabará, na primeira metade do século XVIII, período que marca a colonização das Minas Geraes, indiciam a presença de oralidade nesses documentos. Após o levantamento e análise de 42 combinações lexicais restritas e a respectiva busca em corpora coetâneos, constatou-se que nove delas, que não figuraram nos bancos de textos pesquisados, podem ser consideradas como resquícios de oralidade. This work is licensed under a Creative Commons Attribution 3.0 License.
Por meio deste artigo pretendemos discutir achados da pesquisa intitulada “Esta língua vareia: uma análise da variação linguística no ensino de língua portuguesa em Mariana, MG” (Soares-Sena, 2018), a partir da qual e sob a perspectiva da Sociolinguística Variacionista Laboviana (2008 [1972]) apresentamos uma análise a respeito do tratamento dado à variação linguística nos ensinos Fundamental II e Médio. Assim, visando desenvolver ainda mais o tema em questão, acrescentamos a esta discussão algumas reflexões acerca da variação linguística no processo de alfabetização-letramento de crianças; conhecimento que nos foi possibilitado trazer a este estudo a partir da realização da disciplina “LIG948 - STV em Linguística Aplicada: Da aquisição da fala à apropriação da escrita pela criança” do Programa de Pós Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais. Dessa maneira, evidenciaremos resultados da pesquisa empírica e refletiremos, ainda, sobre o processo de alfabetização no Ensino Fundamental I (anos iniciais – 1º ao 5º ano). Isso para que possamos discutir conceitos e (im)possibilidades ao ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa na educação básica como um todo. Os resultados nos mostram que poderemos compreender que, embora existam grandes estudos com foco em um ensino-aprendizagem diverso, criativo, dinâmico, efetivo e significativo com tendências à erradicação do analfabetismo no Brasil (Soares, 2002, 2018; Faraco, 1992, 2008, 2016; Bortoni-Ricardo, 2005; dentre outros), ainda há muitas lacunas no nosso ensino. Da alfabetização ao ensino médio, existe um caminho extenso a ser percorrido para se alcançar a educação de qualidade.REFERÊNCIASALVES, R. Por uma educação romântica. São Paulo: Papirus, 2002.ANTUNES, I. Gramática contextualizada: limpando “o pó das ideias simples”. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.BAGNO, M. Nada na língua é por acaso – por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007.______. Dicionário Crítico de sociolinguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2017.BARBOSA DA SILVA, Mírian. Leitura, ortografia e fonologia. São Paulo: Ática, 1981.BORTONI-RICARDO, S. M. Nós chegemu na escola, e agora? Sociolingüística e educação. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007.BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): Terceiro e Quarto ciclos: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998, 106 p. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf, Acesso em: 15 jun. 2018.BUNZEN, C.; ROJO, R.. Livro didático de língua portuguesa como gênero do discurso: autoria e estilo. In: COSTA VAL, M. da G; MARCUSCHI, Beth (Orgs.). Livros didáticos de língua portuguesa: letramento, inclusão e cidadania. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005.CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1977.CHEVROT, J. P.; NARDY, A.; BARBU, S. The acquisition of linguistic variation: looking back and thinking ahead. De Gruyter Mouton, 2013.FARACO. C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.______. História sociopolítica da língua portuguesa. São Paulo: Parábola Editorial, 2016.______. Escrita e alfabetização: características do sistema gráfico do português. São Paulo: Contexto, 1992.GIL, A. C. Como elaborar projetos e pesquisa. 3a ed. São Paulo: Atlas, 1995.GUEDES, M. C. R.; GOMES, C. A. Consciência fonológica em períodos pré e pós-alfabetização. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê Letras e Cognição 2010; 41: 263-281.LABOV, W. Padrões Sociolinguísticos. São Paulo: Parábola, 2008 [1972].LÜDKE, M; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Proposta Curricular: Conteúdo Básico Comum - Língua Portuguesa: ensinos fundamental e médio. Minas Gerais, 2007. Disponível em: file:///C:/Users/Viviane/Downloads/CBCEFM%20portugu%C3%AAs%20(1).pdf, acesso em: 27 ago. 2018.MOLLICA, M. C. Fundamentação teórica: conceituação e delimitação. In: MOLLICA, M. C., BRAGA, L. M. (orgs.). Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.MONTEIRO, J. L. Para compreender Labov. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.ORLANDI, E. P. As formas do silêncio. No movimento dos sentidos. 4. ed. São Paulo: Editora da Unicamp, 2007.SOARES-SENA, V. A. Esta língua “vareia”: uma análise da variação linguística no ensino de língua portuguesa em Mariana, MG. 115 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2018.SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 17a ed. São Paulo: Ática, 2002.____. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2018.YIN, R. Estudo de Caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005.Recebido em 03-12-2019 | Aceito em 20-02-2020
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