A terminologia médica apresenta numerosos casos de impropriedades evitáveis. 3,4,[6][7][8] Nos relatos médicos, como anotações do prontuário, publicações, discursos, há grande número de cochilos gramaticais e de estilo.2 De fato, algumas expressões comuns precisam de ser retocadas, tais como "colher hemograma" (hemograma é um laudo), "dor na topografia do baço" (significa descrição dolorosa sobre a localização do baço), "metástase envolvendo o fígado" (na verdade, é o fígado que envolve a metástase), "Foi feito radiografias" (pelas normas gramaticais diz-se: Foram feitas radiografias). É necessário e oportuno tornar conhecidos e remediar descuidos sempre que possível.Este artigo apresenta comentários dos autores sobre alguns termos médicos de uso discutível, como contribuição aos estudos sobre linguagem médica. Ostomia, ostomisado, osteomaDe acordo com as normas de transmudação de termos gregos para o português, ostomia é forma irregular. Não há "ostoma" nem "ostomia" registrados nos dicionários, embora possam, futuramente, aparecer neles se esses nomes tiverem uso muito difundido.Na língua portuguesa, as formas derivadas do termo grego stóma, boca, quando iniciam palavra, são feitas com e inicial (estoma), não o (ostoma). Daí, criaram-se termos como estomalgia, estomatite, estomódio e semelhantes. Como regra, embora haja exceções, na formação de nomes com elementos procedentes do grego ou do latim, usase o referido e prostético antes de termos iniciados por s, seguido de outra consoante. Exemplos:
A linguagem é livre. Essencial é a comunicação. Quando se sabe disso, os conceitos de "certo" e "errado" são substituídos pelos conceitos de escolhas verbais -entre todas as formas existentes da língua, em suas variedades de linguagem popular e culta -"adequadas" e "não-adequadas". Mesmo os termos mais chulos calham em situações emotivas extremas.Para exercício desta liberdade de linguagem, precisa-se de conhecer o patrimônio do idioma. É mister saber que as transformações pelas quais uma língua passa determinam-se pelos seus usuários, seus verdadeiros autores, pelas necessidades culturais e históricas de uso. Mais ainda, que o atingimento das metas de comunicação daquela situação específica -a efetividade do que se vai falar ou escrever -tem de guiar nossas decisões gramaticais.Quando se trata de linguagem científica, por sua seriedade e sua rigorosidade, convém ter domínio do padrão gramatical culto, normativo, descrito e organizado, ao longo de séculos, pelos profissionais de Letras. A linguagem científica formal tem características próprias, apregoadas -em todos os tempos -por bons orientadores médi-cos, exemplificados nos excertos que se seguem:Se a precisão da linguagem é necessária a todos, ela é imprescindível aos pesquisadores e cientistas, já que a imprecisão é incompatível com a ciência 1 . A idade de um erro não lhe confere exatidão, e desconhecer e teimar em usar termos impróprios não é sinal de independência e nacionalidade, mas de pura ignorância afirmou Hélio Wernech 2 . Palavras homógrafas com significados diferentes devem ser evitadas na linguagem científica. O ideal é que cada coisa seja designada por um só termo e que cada termo designe uma só coisa 3 . Creio que já é tempo de os professores das nossas faculdades de medicina interessarem-se pela terminologia. Sou mesmo de parecer que, nos concursos, mesmo os de livre docência, dever-se-ia fazer questão cerrada da uniformidade e do rigor terminológico. De fato, é claro que quem se propõe a ensinar deve saber rigorosamente o que vai ensinar e, se não lhe conhecer o nome aos elementos das ciências que se propõe a lecionar, como poderá fazê-lo cabalmente? 4 Na linguagem científica, o ideal é nunca usar duas palavras para exprimir a mesma coisa, nem dar o mesmo nome a duas coisas diferentes (Sir Thomas Clifford Albert, 1836-1925.Tendo em vista o que se leu e outras tantas considerações de igual teor, comentam-se os a seguir alguns termos que, embora muito freqüentes na linguagem médi-ca, ensejam controvérsias quanto a seu uso em padrão formal, mesmo no âmbito médico. Pode ser opção mais vantajosa, mais efetiva, escolher usos sobre os quais não pesem questionamentos ou sobre os quais haja menor possibilidade de questionamentos, o que é possível em quase todos os casos.
Os médicos dispõem de excelente cultura geral, adquirida desde os cursos escolares e universitários. Apesar disso, a linguagem médica apresenta muitas imperfeições, que requerem especial esforço para reconhecer e corrigir.Nas Continuing with a series of articles related to scientific research and the writing of scientific articles, this issue presents an excellent work entitled Medical Expressions: Shortcomings and suitability. It discusses the fact that, although medical doctors have an excellent general culture, there are frequently imperfections in respect to the language they use in scientific papers. Often obscure and ambiguous statements and other linguistic problems impair the comprehension of these reports.Considerations about the cases presented in this report are supported by what is recommended by the majority of experts in the Portuguese language and in medical terminology. According to these scholars the following principles, among others, are recommended:In language there is not right and wrong as there are distinct levels of language. There is adequacy and inadequacy for each of these levels. (2) In language, it makes good sense to adopt flexibility. (3) The scientific language should be exact, so as not to have misunderstandings; simple, to be well comprehended and concise, to save the time of the reader and space in publications. (4) The normative grammar, owing to its formation based on the standard culture of the language, is adapted to the formal scientific language. (5) It is recommended to avoid terms criticized by good linguists and to use non-condemned synonyms. (6) In science, it is convenient to have only one name per item. (7) In general, follow rules, that is, proceed according to the majority of cases is preferable to the exceptions. (8) Medical slang should be avoided in formal reports. (9) Foreign words are welcome when there is a need and if there is no equivalent in Portuguese. (10) Very laconic or synthetic expressions, in which several terms are taken for granted, are often antiscientific and create misunderstandings. (11) Unnecessarily invented words (neologisms) that do not appear in dictionaries should be avoided.Although many of the principles mentioned above are pertinent to scientific reports written in English, the majority of the terms discussed in this article are specific to the Portuguese language. Many shortcomings have reference to grammatical structures, phrases or words which have been incorrectly translated into Portuguese or even to English words that have a Portuguese equivalence. Thus translation of this article to the English language seems unnecessary and will serve no purpose.
Muitas dúvidas têm ocorrido a respeito do uso de qualquer em lugar de nenhum em frases como: Não há qualquer dúvida. Estamos sem qualquer receio de ocorrer complicações. De fato, é corrente na linguagem médica e na linguagem geral o uso de qualquer com o sentido de nenhum, o que lhe dá legitimidade segundo boas normas amplamente apregoadas por bons linguistas. Apesar de ser muito adotada essa equivalência, há questionamentos de bons profissionais de letras a respeito, o que pode ser oportuno conhecer.Uma das razões é a mudança do sentido principal de qualquer, que indica essencial e tradicionalmente positividade. De qual e de quer, qual quer na forma arcaica, qualquer indica "o que quiser", ou "o que quer que seja", com inespecificidade quanto ao que se refere, como está no Grande Dicionário Etimológico e Prosódico da Língua Portuguesa, de F. Silveira Bueno 4 .Nesse contexto, observam-se as consignações dicionarizadas como primeiro sentido de qualquer. Aurélio 6 : designa coisa, lugar ou indivíduo indeterminado. Houaiss 7 : designativo de pessoa, objeto, lugar ou tempo indeterminado, equivalendo a um, uma; algum, alguma. Dicionário da língua portuguesa contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa 1 : todo o elemento de um grupo de pessoas ou coisas, indiferenciada e indeterminadamente, sendo parafraseável por "não importa qual", "este ou aquele". Dicionário Unesp 3 : usado para referir--se indeterminadamente a pessoa ou coisa, não importa qual. Aulete 2 : serve para indicar um indivíduo, um lugar ou um objeto indeterminado e equivale a um ou outro, uma ou outra, este ou aquele, esta ou aquela.Por motivo de clareza, mas sem inflexibilidades ou preconceitos, em linguagem formal científica ou acadêmica pode-se usar, sempre que for possível, cada palavra de acordo com sua classe gramatical, ou seja, substantivo como substantivo, adjetivo como adjetivo, pronome como pronome, verbo como verbo e outros casos, exceto se não houver outra opção.Com o mesmo objetivo de nitidez, também sem radicalismos, é importante buscar o emprego de cada palavra em seu sentido principal ou próprio, em geral dado nos bons dicionários como o primeiro sentido, para, assim, evitar aplicações figurativas, por extensão, gírias, regionalismos, modismos, neologismos e estrangeirismos desnecessários, sobretudo quando possam causar obscuridades e questionamentos.Com efeito, o uso de qualquer por nenhum pode causar ambiguidade ao incorrer em desvio de sentido essencial de qualquer. Isso pode configurar imperfeição redacional do ponto de vista da linguagem acadêmica, conforme, entre outros gramáticos, ensina Cegalla 5 : "Ambiguidade. Defeito da frase que apresenta mais de um sentido, mais de uma interpretação". Se dissermos, por exemplo: "Não quero qualquer remédio", há dubiedade de sentido. Poderemos completar: "O que quero é aquele que o médico receitou". Mas, se dissermos "Não quero nenhum remédio", a firmação torna-se clara. Não cabem complementações nem outras interpretações quanto ao seu sentido, sem, portanto, dubiedade. Para não questionar ...
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