Resumo: Na Europa dos séculos XVII e XVIII, a cultura musical e aquilo que os antropólogos denominam de "sistema de sexo/gênero" eram áreas importantes para seres humanos comuns (e não filósofos) confrontarem e se engajarem com as ansiedades epistemológicas e sociais que caracterizavam a era. Este ensaio deverá explorar a miríade de relações entre gênero e cultura musical barroca, com ênfase especial nos aspectos mais exóticos destas relações -os papéis adotados pelas cortesãs, castrati e seus patrões da mais alta elite com o intuito de manter a prática musical como um meio para a representação e circulação de poder e desejo.. Palavras-chave: Música Barroca, Música e estudos de gênero, cortesãs, castrati. Gender and Baroque MusicAbstract: In 17th-and 18th-century Europe, both musical culture and what anthropologists call the sex/gender system were important sites for ordinary human beings (not philosophers) to confront and engage with the epistemological and social anxieties that characterized the age. This paper will explore the myriad relationships of gender and Baroque musical culture, with special emphasis on the most foreign aspects of those relationships-the roles that courtesans, castrati and their most elite patrons played in ensuring that music-making was a means for both the representation and the circulation of power and desire. Keywords: Baroque Music, Music and Gender Studies, cortesans, castrati. -IntroduçãoO estudo de gênero em relação à música barroca é uma nova área de pesquisa, uma área caracterizada por questões ainda sem respostas e ao mesmo tempo por sua visão crítica ou histórica. Disto resulta que não há uma narrativa completa sobre gênero e música barroca que eu possa apresentar a vocês hoje, nem mesmo algo que tente explicar a maneira pela qual gênero interagia com o amplo espectro de comportamento musical dos europeus dos séculos XVII e XVIII (e suas colônias). Uma vez que não posso almejar uma abrangência total, tratarei de introduzi-los às premissas básicas, questões e problemáticas deste novo campo, com a esperança de oferecer alguns quadros de referência que poderão enriquecer sua própria pesquisa ou execução musical. Tentarei, como fiz no início desta semana, finalizar com um estudo de caso que demonstra, por um lado, que refletir sobre as dinâmicas de gênero historicamente específicas que (in) formaram uma obra em particular pode nos ajudar a com-PER MUSI -Revista Acadêmica de Música -n.20, 91 p., jul. -dez., 2009 preender esta obra de modo semelhante àquela que seu criador e suas primeiras audiências o fizeram. Tentarei também fazer com que percebam porque todos aqueles que se interessam por música barroca em contexto (em seus possíveis significados) gostam de saber algo sobre as relações desta música com as normas de gênero do século XVII e XVIII.Em primeiro lugar, no entanto, o que é gênero e quais são as premissas básicas e questões levantadas pelos estudos de gênero em relação à música barroca?Gênero é um sistema de distribuição de poder social baseado nas relações humanas co...
Resumo: O maravilhoso na literatura italiana assume diversas formas. Eu pretendo apresentar aqui três tipologias, escolhidas por serem arquetípicas e por explicarem o desenvolvimento futuro do gosto literário italiano. Em primeiro lugar, Dante: em sua obra, o nível epistêmico do sobrenatural se sobrepõe ao nível do natural. Beatriz, a mulher-anjo, pertence ao mundo real, mas através de suas qualidades conecta este mundo ao mundo celeste. Ela é conhecida por ser uma manifestação do divino, um milagre. Em segundo lugar, episódios de magia nos poemas cavalheirescos sublinham o imprevisível e a surpresa, o que sempre trazem novos rumos às vidas das personagens, às vezes surgem como soluções, outras vezes desviam o herói de seu destino correto. Em Orlando Furioso, a mágica também revela os desejos obscuros das personagens e seres humanos; trata-se de uma espécie de ciência da imaginação. Em terceiro lugar, na literatura de viagem, o maravilhoso é um tema recorrente, já que a viagem é um meio de se encontrar com o desconhecido, o inacreditável, o prodigioso, desde o Milione de Marco Polo. No início da era moderna, uma nova epistemologia e desencantamento tomam o lugar das analogias e da mágica, mas o maravilhoso não desaparece, ao contrário, adquire ainda maior importância com a nova ciência. Concluirei minha fala com algumas considerações sobre a maravilha na música presente na literatura do século XVII. Palavras-chave: Maravilhoso; Dante; Ariosto; Literatura de viagem; Barroco. Phenomenology of Italian Literary MarvelousAbstract: The marvelous in Italian literature assumes many forms. I intend to present here three typologies, chosen because they are archetypal and explain the future development of Italian literary taste. First Dante. In his work the epistemic level of the supernatural overlaps the level of the natural. Beatrice, the woman-angel, belongs to the real world, but through her qualities connects this world to the heavenly one. She is said to be a manifestation of the divine, a miracle. Second: episodes of magic in the chivalric poems underline the unforeseeable and the surprising, which always divert the lives of the characters, sometimes offering solutions, other times turning the hero aside from the right path. In Orlando Furioso magic also reveals the hidden wishes of characters and human beings, it is a kind of science of the imagination. Third: in travel literature the marvelous is a recurrent theme, because travel is a way of encountering the unknown, the unbelievable, the prodigious, since Marco Polo's Milione. At the beginning of the modern age new epistemology and disenchantment replace analogies and magic, but the marvelous does not disappear, on the contrary it acquires even more importance with the new science. I will end with few considerations on the marvelous in music in Seventeenth century literature. Keywords: Marvelous; Dante; Ariosto;Travel Literature-Baroque.Colocar em evidência o verso de Giambattista Marino no programa desta Semana de Música -que tem por tema a meraviglia, -não é so...
Temos o prazer de apresentar os números 17 e 18 de Per Musi-Revista Acadêmica de Música, inteiramente dedicados à teoria e prática da música antiga, especialmente a música colonial e imperial brasileira e a música barroca européia. A motivação para estas duas edições temáticas de Per Musi decorre da realização, de 19 a 25 novembro de 2007 em Belo Horizonte, da I Semana de Música Antiga da UFMG. Um marco na história da música antiga brasileira, este evento de grande porte, que teve à frente de sua organização o violinista e teórico Prof. André Cavazotti, congregou brasileiros e estrangeiros em concertos, encenação de ópera, palestras, mesas-redondas, comunicações, cursos, lançamento de livros e CDs, exposição de manuscritos raros e visitas contextualizadas a cidades históricas de Minas Gerais. Per Musi 17 e 18 publicam alguns dos melhores trabalhos ali apresentados. Dois artigos da pesquisadora norte-americana Suzanne Cusick sobre contexto e gênero no Barroco serão traduzidos e publicados nos números 19 e 20 de Per Musi. Per Musi 18 privilegia a música antiga do ponto de vista da historiografia, das práticas de performance e da análise musical com base na retórica do barroco.
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