A percepção do homem para com os macrofungos ocorre por meio das cores, formas e ação no meio, despertando curiosidades e o interesse por eles. Dessa forma, objetivou-se compreender como uma comunidade rural manifesta os fenômenos observados dos macrofungos conhecidos/usados, com base em suas experiências particulares e a manutenção do conhecimento pela transmissão intergeracional dos saberes. Utilizou-se entrevista semiestrutura acompanhada de álbum seriado de fotografias com 56 informantes da comunidade Novo Zabelê, seguida de turnê-guiada. A percepção está relacionada com surgimento no ambiente, sazonalidade, utilização lúdica e medicinal, condição climática e função ecológica. A maioria (91%) retrata a infância como início do conhecimento sobre os fungos, onde a família contribuiu para obtenção dos saberes, por meio da tradição oral quanto aos nomes vernaculares e função na natureza, sendo transmitido intergeracionalmente, onde a percepção negativa foi expressa pela afirmação de que fazem mal para saúde ou não são uteis e a positiva com atribuição de importância para natureza e uso na medicinal popular. Os dados reforçam que a percepção sobre os fungos é constituída culturalmente e, podem contribuir para o conhecimento da biodiversidade local e a etnoconservação da Caatinga.
O uso dos macrofungos por populações tradicionais tem destaque nas categorias alimentícia, medicinal e místico religiosa, sendo útil nas práticas cotidianas com importância para a qualidade de vida humana de tradições milenares que utilizam esse recurso. Objetivou-se conhecer e discutir usos dos fungos conhecidos e utilizados na comunidade Novo Zabelê, São Raimundo Nonato/PI, Brasil, inserida na Caatinga, a fim de obter-se conhecimento dos recursos fúngicos desta região. As coletas seguiram metodologia usual e foram incorporadas ao acervo do Laboratório de Micologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI). O levantamento dos dados etnomicológicos foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas, conversas informais e turnês-guiadas. Foram referidas e identificadas oito espécies de macrofungos, distribuídas em três famílias, Ganodermataceae, Coprinaceae e Agaricaceae. As espécies que apresentaram maior Valor de Uso (VU) foram do Complexo Ganoderma applanatum (Pers.) Pat e Leucocoprinus sp. O maior conhecimento de uso micológico está contido na faixa etária adulta e idosa. O uso dos macrofungos, em alguns casos, foi semelhante ao de outras regiões, como México e China. A partir dos dados foi possível estimar a importância do conhecimento micológico, bem como a interação dos pesquisados com os bens naturais. Sugere-se que sejam levados em consideração os conhecimentos etnomicológicos em projetos de conservação da biodoversidade do Parque Nacional Serra da Capivara, do qual a comunidade estudada é oriunda, para preservar e valorizar o patrimônio biológico e cultural.
Mediante estudo etnobotânico, objetivou-se listar plantas utilizadas para tratamento de infecções fúngicas em comunidades rurais do Nordeste do Brasil. Utilizou-se formulários semiestruturados, envolvendo 176 pessoas (99 do gênero feminino e 77 do masculino). Realizou-se turnês-guiadas para coletas e as exsicatas foram incorporadas ao Herbário Graziela Barroso (TEPB), da Universidade Federal do Piauí. Analisou-se os dados no NTSYSpc v.2.10t. Obteve-se 175 citações, identificando 36 espécies, distribuídas em 24 famílias e 35 gêneros. 84% são indicadas para tratamento de micoses em humanos, 10% em animais e 6% para fitopatógenos. Das plantas citadas, 54% são nativas, sendo a folha a parte mais usada (54%). As preparações foram cataplasma (55%), in natura (36%), decocção (5%) e a maceração (3%). Verificou-se que há diferença de conhecimento do número de espécies entre as comunidades, sendo Tamboril e Capim as mais similares. O saber popular sobre plantas fungicidas tem potencial interesse para a medicina humana e veterinária.
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