Este texto narra composições tecidas em meio à participação em atividades de extensão de duas universidades públicas brasileiras, uma do Sul e outra do Nordeste, que têm ensaiado costurar práticas clínicas com luta feminista numa perspectiva interseccional, entendendo que o sofrimento psíquico de mulheres brasileiras de periferias urbanas e de comunidades tradicionais é analisador e efeito de desigualdades de classe, raça, gênero, região da cidade. O encontro dessas duas iniciativas acabou por fiar uma rede de relações entre universidades e comunidades enlaçadas por projetos criados a partir de demandas prementes dos territórios vivos em que se situam. Tal encontro é atravessado com o tanto que se escuta de violência e de perda numa sociedade que a cada dia amplia um modo necropolítico de governar. Nesse entremeio de encontros atravessados, exercitamos a nomeação de uma clínica feminista e encontramos o exercício político de mulheres articuladas em movimento social. A singularidade e a singularização das mulheres se tecem nos tropeços das funções designadas na história deste país colonizado. Assim, esse alinhavo clínico não se interessa apenas por enredos familiares, mas quer enfrentar formas totalizantes e os códigos dominantes, e, nessa direção, afirma a radicalidade de uma indissociabilidade entre clínica e política.
Resumo O artigo parte da aposta na pesquisa como uma prática em movimento, na composição de territórios do ato de pesquisar como uma experiência. Inspiradas(os) na força disruptiva do torcer-retorcer dos Parafusos (folguedo sergipano, derivado de práticas de resistência à escravidão dos povos pretos), propomos um método-pensamento de inventar modos de ver, dizer e narrar a partir daquilo que está ao nosso redor, uma posição em relação ao mundo e a si mesmo, engendrando a ideia de que este mundo não é um dado, mas um efeito de nossas práticas. A partir dessa perspectiva, intentamos interpelar as próprias práticas discursivas e não discursivas da Psicologia, em favor de abrir trilhas nas quais esse saber possa refundar sua própria história, acentuando suas descontinuidades e heterogeneidades e, com isso, uma atitude de fazer frente às tendências colonialistas, agora em suas versões neoliberais. Esse modo de pesquisar se faz por: operar uma ideia-método genealógico-cartográfica e uma escrita polifônica; produzir máquinas de guerras nômades, minoritárias, pós-identitárias, decoloniais; e inventar com aquilo que está ao nosso redor em favor de saberes e fazeres das redes locais, que, tais como a planta mangabeira, não se deixam domesticar.
O artigo decorre de uma pesquisa articulada ao projeto de extensãoFortalecimento Sociopolítico das Marisqueiras de Sergipe, parte doPrograma de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras. A pesquisafaz-se processo de habitação coletiva em defesa de territórios de vidatradicionais e da vida das mulheres marisqueiras, que veem seus territóriosexistenciais cotidianamente ameaçados por empreendimentos do grandecapital. Inspiradas na etnografia e na cartografia, miramos nos processos de invenção da vida cotidiana das mulheres no mundo mangue. A perspectivaé pesquisar com marisqueiras, conhecer seus modos de vida e formas deresistência, que se tecem num território híbrido entre cidade, campo emangue. Acompanhamos a construção do movimento social MulheresMarisqueiras de Sergipe e, com ele, de redes de cuidado e ajuda mútua,invenções de si e de mundos correlatos, ampliando em ato sentidos para acategoria mulher e para o trabalho artesanal.
Esse artigo é parte de uma pesquisa que tem como objetivo pensar as estratégias de cuidado e pedagógicas investidas sobre a infância que de alguma forma estão envolvidas na produção do que chamaremos de uma “cultura da mansidão”. Seguimos na espreita de que muitas práticas de cuidado e pedagógicas, envolvendo de forma privilegiada as práticas psicológicas, são acionadas no sentido de compor estrategicamente com as políticas de amansamento. A principal chave conceitual para pensar essas estratégias é a noção de pastorado de Estado/laico ou contemporâneo, uma atualização de práticas pastorais de um cristianismo ocidental moderno institucionalizado na forma-igreja em práticas orientadas por saberes qualificados como científicos e articulados a práticas de governo. Nesse sentido, a colaboração histórica da Psicologia nesses processos configura-se como uma demanda do aparecimento da sociedade moderna para legitimar os modos de existir individualizados e docilizados como dominantes, portanto, os mais próximos do que seria considerado como normal e saudável, através de táticas medicalizantes e judicializantes. Por outro lado, como campo de produção inventiva, a Psicologia pode colaborar para operar fissuras com essa lógica individualizante fartamente fortalecida pelos processos de medicalização dos chamados processos de cuidado, de aprendizagem e desenvolvimento humanos. Entretanto, parece que a transformação das práticas hegemônicas depende fundamentalmente dos lugares estratégicos que ocupamos e da maneira como ocupamos. Não se pode perder de vista a permeabilidade das funções institucionais e desses lugares de poder, entendendo- -os como os modos possíveis de efetivarmos nossas políticas.
Esse artigo integra parte dos efeitos de um percurso de extensão e pesquisa que aproximou alunas e professoras do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe ao Movimento de Marisqueiras de Sergipe (MMS). Uma pesquisa que tinha como ponto de partida a intenção de acompanhar processos de invenção da vida cotidiana de mulheres marisqueiras em Sergipe, conhecendo os modos de vida; desdobrou-se na produção de método-pensamento que coloca em questão nossos gestos capitalísticos-empreendedores, inclusive, gestos de pesquisa. Por meio dessa ressonância, inspirando-nos em procedimentos etnográficos e cartográficos, constituímos, com a pesquisa, um território comum com as águas, o mangue, as marisqueiras e as pesquisadoras na direção de afirmar a singularidade e a singularização da vida de mulheres marisqueiras, mulheres de povos e comunidades tradicionais.
O destaque à expressão "competência" é dado por Chauí (1982) e utilizado por Coimbra (2002) para discutir a pretensa neutralidade e cientificidade das falas dos especialistas, problematizando especialmente os psis, tomados como nosso campo de análise. Esses discursos, tomados como tais, além de operar uma dicotomia entre Psicologia e Política, "[...] geram o sentimento coletivo de incompetência, poderosa arma de dominação, pois serão elas que dirão, em última instância, a todos como 'ver, tocar, sentir, falar, ouvir, escrever, ler, pensar e viver'" (CHAUÍ, 1982, p. 59 apud COIMBRA, 2002, p. 8, grifo do autor). 2 Como bem observa Abreu (1991), pensando no caso das práticas psicanalíticas, que ela problematiza no seu trabalho como práticas que repetem o modelo médico de saber-poder. Trata-se de práticas reguladas pelas lógicas de adaptação e da psiquiatria, integrando-se em parcelas significativas dos meios de controle social. 3 Ressaltamos que não estamos usando nossa pesquisa como um clamor pela garantia de direitos. Entendemos o Direito produzido como um valor e um ideal a ser sempre alcançado e garantido, localizado em nossa sociedade somente a partir das reverberações dos ideais da Revolução Francesa, operando, talvez, como um sintoma de uma sociedade desigual e injusta. Entretanto, e por isso mesmo, tende a permanecer sempre no campo da transcendência, apesar das lutas. Não se pretende ainda descartar seu uso como modo de fortalecimento de lutas, apenas evitar a naturalização do mesmo.
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