No Brasil, a religião enquanto objeto de estudo sistemático ocupou "um lugar marginal e de importância secundária" na academia.1 Tal resistência, que em certa dose ainda persiste, provavelmente derive da herança que nos legou o positivismo e sua aversão quase religioso-fundamentalista ao tema.2 Todavia, essa aparente impermeabilidade acadêmica é cada vez mais permeável a essa discussão.Conforme apontam Beatriz Muniz de Souza e Luís Mauro Sá Martino, 3 não obstante os trabalhos de estudiosos como Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, os estudos sobre religião no país começam a superar os limites da mera história eclesiástica somente a partir da década de 70, quando uma certa organicidade entre estudiosos da religião e instituições religiosas começa a ceder lugar a uma nova maneira de compreender o fenômeno. O livro de Cândido Procópio Ferreira Camargo, Católicos, Protestantes, Espíritas, 4 é um marco importante dessa mudança de perspectiva. Com o intuito de analisar a relação entre religião e mudança social, Camargo inaugura uma nova fase da pesquisa brasileira nessa área. É importante destacar também as pesquisas de Roger Bastide que contribuíram "para que o meio universitário brasileiro viesse a reconhecer a relevância da religião como significativo objeto de análise sociológica".5 Em suma, nas últimas décadas o interesse científico pela religião tem sido crescente como bem têm evidenciado os estudiosos do fenômeno.Analisar o fenômeno religioso não é tarefa simples, implicando entende-lo como uma realidade situada, limitada e orientada socialmente, influenciando e sendo influenciada pelo meio que a gestou. Não é sem razão que a religião ocupa um importante lugar nos estudos socio-antropológicos, pois na pergunta pela dinâmica social cabe a pergunta pelos 'dinamizadores sociais'.A religião é, antes de tudo, uma construção sócio-cultural. Portanto, discutir religião é discutir transformações sociais, relações de poder, de classe, de gênero, de raça/etnia;