As políticas públicas de compra de alimentos da agricultura familiar se constituíram em instituições indutoras de objetivos multidimensionais, dentre os quais está aquele de ativar processos de organização social. Para contribuir com a compreensão destes processos, o artigo analisa centralmente as respostas organizativas de agricultores familiares induzidas pelo Programa de Aquisição de Alimentos e pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar no contexto de cinco organizações no Vale Ribeira/SP. Para tanto, foram entrevistados os principais gestores das organizações e 38 produtores de bananas por meio de roteiro semiestruturado. Identificou-se que os programas públicos incitaram a criação de cooperativas e a transformação da base social de organizações pré-existentes. A atuação de atores externos foi determinante para que tais estruturas cooperativas pudessem atender de modo crescente aos programas. Logo, foi a existência formal das organizações que permitiu que ocorressem efeitos como a implementação de sistemas sustentáveis de produção, a melhoria nas condições econômicas dos agricultores e a intensificação da participação social, levando à constituição de um instrumento de representação regional dos agricultores através de uma cooperativa de segundo grau.
A abordagem nexo água, energia e alimentos reconhece as interconexões entre os sistemas hídrico, energético e alimentar, e, para que a gestão integrada destes seja eficiente e sustentável, propõe que ocorra dentro de processos de governança. No Brasil, os espaços de participação para a gestão de políticas públicas estabelecem arranjos institucionais potenciais para abrigar a governança nexo. Partindo desta compreensão, olhou-se para um dos contextos mais críticos à segurança hídrica do país, a área dos mananciais do Sistema Cantareira. Nele o nexo é compreendido a partir das inter-relações entre a produção de alimentos (leite e carne), de bioenergia (lenha e carvão) e a segurança hídrica. O artigo considera características dos espaços públicos voltados à gestão participativa de políticas ambientais e de desenvolvimento rural sustentável para analisar se seus arranjos institucionais permitiriam comportar um processo de governança nexo delimitado pela área de contribuição dos reservatórios do Sistema Cantareira. Para a pesquisa foram utilizados dados secundários para a análise documental (leis, atas, documentos técnicos) e primários coletados em entrevistas junto a atores que participavam destes espaços. Os espaços públicos focados foram os conselhos gestores municipais, os conselhos de unidades de conservação e o comitê de bacia hidrográfica. Apesar de possuírem características desejáveis a um processo de governança nexo, como contarem com múltiplos atores e terem caráter participativo, nenhum dos arranjos analisados comportaria tal proposta. Além de não terem como escala exclusiva de atuação a área dos mananciais do Sistema Cantareira, estes espaços são orientados por objetivos setoriais e não engajam produtores de alimentos e de bioenergia. Desse modo, construir a governança nexo água, energia e alimentos exigiria esforços para adequar o espaço que mais apresenta características favoráveis, o comitê de bacia hidrográfica.
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