Estudiosos de Maurice Merleau-Ponty e de Michel Foucault estabelecem pontos de aproximação entre ambos, sem negação de suas diferenças. O presente ensaio indica alguns aspectos selecionados nos dois autores na direção de reforçar estes pontos.
Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 7(1-2): 15-20, outubro de 1995. freqüente que filósofos tomem a história da filosofia como via ou como tema de sua própria elaboração filosófica. Como via, quando se dedicam à leitura filosófica de filosofias já constituídas e, neste sentido, escrevem histórias da filosofia ou a praticam no estilo das monografias. Como tema, quando colocam questões acerca da natureza da história da filosofia e do modo adequado de ler filósofos e, neste sentido, fazem algo como uma teoria ou uma filosofia da história da filosofia. Recorrem, quase sempre, aos dois procedimentos. Digamos, logo de partida, que Michel Foucault não se ocupa com nenhum deles.Quanto ao primeiro procedimento, ele, que faz filosofia escrevendo histórias, não escreve história da filosofia. Se são diversos os "objetos", por assim dizer, de suas investigações históricas (loucura, medicina, ciências humanas, prisões, sexualidade, etc.), não há nenhuma que eleja como "objeto" as filosofias. Entretanto, a abordagem delas está presente. Diretamente, em
Introduzindo a observação sobre a coerência entre forma e conteúdo do Curso de 1982, é preciso perguntar pela coerência entre o Curso e seu título, já que nem forma nem conteúdo parecem corresponder exatamente ao que seria uma hermenêutica do sujeito. Por um lado, o título não é compatível com o Curso na medida em que este não se ocupa preferencialmente com o sujeito enquanto “conhecimento de si” mas enquanto “cuidado de si” o qual não é, de fato, assunto da hermenêutica. Por outro lado, o título tem duplo sentido: do ponto de vista histórico, o Curso ocupa-se com as condições que tornam possível o que viria a ser uma hermenêutica do sujeito, enquanto que do ponto de vista genealógico ele trata das possibilidades de superação do que veio a ser uma hermenêutica do sujeito. Portanto, a coerência da relação entre o título e o que ele designa reside nesta ambiguidade.
O texto nasceu de uma comunicação apresentada e discutida junto a um público de psicólogos (em agosto de 1977) e cujo objetivo era preparar (ou despertar) os ouvintes para a eventual leitura direta dos escritos de Michel Foucault, particularmente aqueles escritos que interessassem mais de perto a estudiosos da área de psicologia. Para tanto, escolheu-se pois, elaborar uma "introdução" à leitura do livro Histoire de la folie à l'âge classique, introdução esta que é, feita através de duas vias de abordagem : a primeira, mais específica, detém-se no exame de um momento preciso do livro, a saber, a "Introdução" da 2.a Parte; a segunda, mais genérica, busca "localizar" o livro no itinerário dos escritos de M. Foucault (até a época de L'Archéologie du savoir), fornece uma visão ampla de seu conteúdo interno e se conclui com uma remissão ao Prefácio de Les Mots et les Choses onde se coloca a questão da diferenciação entre o "outro" e o "mesmo".
Recentemente chegada ao Brasil, Jeanne Marie viu-se, literalmente, às voltas com dificuldades burocráticas: para obter o registro de trabalho, precisava de um visto de permanência como estrangeira e para obter o visto, precisava de um registro de trabalho... Foi quando, muito espontaneamente, sugeri-lhe um caminho pragmático e formal: casar-se com seu companheiro brasileiro. Ao que ela, com seu sotaque suíço, muito veementemente respondeu: "-Non querro serr concubina!" Diverti-me com o emprego de um vocábulo quase em desuso para designar uma decisão de vanguarda. (Um parênteses: o concubinato com Marcos, que gerou Rafaela e Cristina, persevera, duradouro).Em minhas fantasias, tendo a crer que foi desde então que comecei a observar o modo como Jeanne Marie usa a linguagem. Observação teoricamente reforçada quando aprendi que a problematização da linguagem constitui uma espécie de elemento catalizador no universo de seus interesses filosóficos.Compreende-se que neste universo de interesses, transitem e flanem pensadores e poetas. W. Benjamin desde sempre e P. Ricoeur posteriormente, traçam as linhas de confluências para encontros a que, entre outros, comparecem: Homero, Heródoto, Tucídides, Platão, Adorno, Proust, Kafka, Baudelaire, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, e, porque não, Sherazade e a "arte de contar", sem nomear os autores de livros sobre brinquedos e brincadeiras (tão ao gosto de Benjamin). Por isto mesmo, nestes cruzamentos que promove em livros e ensaios, Jeanne Marie joga com o passado e o presente, realizando, no próprio exercício de escrever, os sentidos da história não linear sobre a qual escreve. E, reciprocamente, lida com os "labirintos" da história na mesma medida em que desaloja a linguagem de suas compartimentalizações tradicionais, aproximando, sem baratear as diferenças, filosofia e literatura, reflexão e poesia, pensamento e arte.É neste contexto geral que situo um tema muito específico: as três figuras de mulheres retomadas dos textos de Platão. Inverto a ordem com que Jeanne Marie as apresenta -a flautista, a parteira, a guerreira -para, como num pequeno quebracabeças, mostrar que ela própria, a seu modo, se encaixa naquelas figuras. Convictamente, mas sem os vícios dos dogmatismos, Jeanne Marie enfrenta debates e assume atitudes como uma guerreira aguerrida em sua "pacífica guerrilha". A exemplo de Sócrates, que partejava as almas do ventre do não-saber, ou de Sêneca, que puxava os discípulos para fora da stultitia, Jeanne Marie faz nascer ideias e posturas, na medida em que juntamente com dissertações e teses também orienta condutas para uma "vida justa". Porém, diferentemente do que suporia um platonista fiel, a imagem que melhor lhe cabe é a da tocadora de flauta. É que esta flautista tem o mister de misturar "regiões da palavra". Lida com a "palavra da poesia e da música, do corpo e da dança, do riso e do jogo". Ao mesmo tempo, usa o logos com competência, pensa em condições iguais às do pensador, é conviva no Banquete filosófico.
O artigo aborda o tema das relações entre o sujeito e a verdade em Michel Foucault, a partir do estudo realizado em seus últimos trabalhos sobre duas modalidades do dizer a verdade sobre si mesmo: a parresia e a confissão. Estas duas modalidades de veridicção são tratadas, especificamente, em suas dimensões histórico-filosófica e jurídico-política, ao mesmo tempo em que se busca propiciar uma visão de conjunto sobre elas. Mostrase ainda que a temática, por um lado, está circunscrita no passado histórico, contemplando a antiguidade pagã no caso da parresia, e a espiritualidade de cristã no caso da confissão. Por outro lado, mostra-se que ela se abre para o nosso presente, na medida em que aponta para a constituição do sujeito moderno.
Desenvolvida por Michel Foucault nos três últimos cursos que ministrou no Collège de France, a noção de parrhesia, franco falar ou dizer-verdadeiro, aparece pela primeira vez no curso de 82, A hermenêutica do sujeito. A noção é ali descrita em dois momentos: primeiro, uma “análise negativa” ou “indireta”, pelo confronto da parrhesia com seus opositores, que são a lisonja e a retórica; e, depois, análise direta e positiva, apoiada em textos de Filodemo de Gedara, de Galeno e de Sêneca. Faz-se aqui uma reconstituição desse segundo momento de análise, reorganizando-o em tópicos que conduzem à sugestão de algumas reflexões.
A experiência de traduzir textos filosóficos (no caso, especificamente textos de Michel Foucault) permite o levantamento de reflexões sobre analogias possíveis entre o trabalho de tradução, por um lado e, por outro, a leitura e o ensino filosóficos. Também conduz à hipótese de um parentesco possível entre a tradução e a redação de apresentações e prefácios.
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