Qual é o tempo destinado ao livre brincar e se movimentar das crianças na escola Faz sentido ter hora certa para brincar De um lado temos o tempo cronometrado, medido, regulado pela opressão dos relógios dos adultos, concebido pela objetividade dos números, dos calendários, horários e rotinas, representante do mundo pensado, racionalizado. De outro, temos o tempo sentido e percebido pelas crianças, a subjetividade, a experiência e o acontecimento, representantes do mundo vivido, fenomenológico. O presente texto propõe a reflexão demarcada por esta dicotomia na Educação Infantil onde, em nome do culto à velocidade, se suprime a liberdade para brincar e se movimentar que dá lugar à escolarização precoce das crianças de 0 a 6 anos, de quem se especta que sejam futuros cidadão produtivos.
Esta reflexão é resultante de pesquisa teórico-filosófica na qual objetivamos traçar um panorama argumentativo das práticas sociais que envolvem o governo da criança e da infância, considerando alguns pressupostos modernos potencialmente ativos na contemporaneidade. Nesta direção, buscamos ampliar as concepções de crianças e infâncias que emergem da visibilidade atribuída a elas no cenário da modernidade, no interior da polarização das ciências humanas e exatas. Procuramos também reafirmar a importância do protagonismo da criança no processo educativo como autora e atora das aprendizagens, da agência, da condição de corpo-sujeito capaz de sentir, pensar e agir, e não sendo tratada como corpo-objeto-refém da autoridade e do adultocentrismo que a despotencializa.
Governar a infância significa educar as crianças moldando-lhes o corpo e a alma através de uma anátomo-biopolítica que emerge nas pedagogias ocidentais modernas, baseadas na combinação entre hierarquia e padrão que normatizam e fundamentam as artes de governo para que sejam integradas à vida social. Para tal, foi necessário forjar a infância como objeto de análise por intermédio de uma nosopolítica que contorna a criança, autorizando a nosoinfância que preconiza o desenvolvimento corporal e comportamental em etapas, limites e medidas coligidas nas estratégias de governo, pois é preciso educá-las fazendo-as existir. O biopoder normalizador e disciplinador estabelece o que é ser criança, alocando a dimensão lúdica da corporeidade ao serviço da aquisição de competências e habilidades prescritas pelos adultos, a fim de que atinjam com sucesso padrões motores pré-definidos em cada estágio de desenvolvimento, suprimindo as experiências autênticas que a criança tece no diálogo corpo-mundo pela linguagem imanente, espontânea, singular e original do brincar e se movimentar em liberdade.
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