Em pesquisa realizada pelo autor e mais quatro colegas na maior favela da cidade de Porto Alegre foi detectada uma atitude bastante consistente com relação à polícia: ela é temida e odiada pela grande maioria ao contrário da gangue local que era muito integrada e respeitada pela comunidade. O objetivo do artigo é portanto tentar mostrar as razões desse paradoxo. e 1985 a 1988, eu e mais quatro colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a antropóloga Claudia Fonseca e três alunos, Cesar Augusto Avancinni, Sergio Martins de Barros e Jurema Brittes, realizamos uma pesquisa em uma comunidade de periferia, Morro da Cruz, Vila Vargas, situada na região ocidental da cidade de Porto Alegre cuja população era de 35 a 40.000 habitantes. Por quase duas décadas, a vila foi dominada pela gangue mais poderosa da cidade (tráfico de drogas), e em certo sentido a comunidade também era ilegal pois tinha sido construída a partir de invasão de terra e porque estava legalmente separada da sociedade urbana que a cercava. O mito em Porto Alegre, talvez devido à influência dos jornais locais, é de que lá no Morro da Cruz existe uma guerra Hobbesiana de todos contra todos provocada pela atomização e apatia fruto da pobreza. Apesar disso, entretanto, o Morro é considerado a comunidade mais organizada da cidade, com uma vida social e comunitária bastante intensa, seis escolas, cinco organizações comunitárias, três times de futebol, duas creches, um centro de saúde, três capelas católicas e uma dúzia de capelas pentecostais, cerca de cem centros de Umbanda e centenas de lojas. As moradias tanto podem ser confortáveis como caóticas, o suprimento d'água é bastante irregular e a rede UNITERMOS: atitude, comunidade, polícia, gangue.